Você tem medo de travesti?

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Entrevista exclusiva com o diretor Silvero Pereira, do Coletivo Artístico As Travestidas, que se apresentou em São Luís

O espetáculo Quem Tem Medo de Travesti está em circulação pelo Brasil e este mês chega a Belém (PA), Imperatriz (MA) e Palmas (TO) – depois de São Luís (entre 14 e 16 de maio). Segundo o material de divulgação, as cidades foram escolhidas pelos altos índices de violência contra a população LGBTQI+.

O Coletivo Artístico As Travestidas está em circulação com o projeto Travestis Itinerantes, contemplado no edital do programa Rumos, do Itaú Cultural. O espetáculo é escrito e dirigido pelo ator e pesquisador cearense Silvero Pereira e pela professora e diretora gaúcha Jezebel de Carli.

Silvero Pereira – fotos divulgação

Silvero Pereira não foi a São Luís, pois estava a caminho de Cannes, no elenco de Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, único filme brasileiro a concorrer na mostra oficial do festival.

Ele conversou com exclusividade com FAROFAFÁ.

Quem tem Medo de Travesti_Luiz Alves

Zema Ribeiro: Vamos começar pelo título do espetáculo que chega São Luís: Quem Tem Medo de Travesti. A homofobia é ódio, mas a meu ver esse ódio parte do medo, não sei se você concorda. A seu ver, quais as razões desse medo e desse ódio?

Silvero Pereira: A gente trabalha o título a partir da definição da palavra “medo”, que é exatamente o fato do não conhecer, ou seja, do pré-conceito. Muito do que temos é a violência provocada por falta de conhecimento, por ignorância e, principalmente, falta de políticas públicas que trabalhem o respeito às questões de gênero e diversidade na família, na escola e na sociedade em geral.

ZR: Tua dramaturgia, desde BR Trans, é baseada em tristes estatísticas e acaba
misturando arte e política. Na sua opinião é dever do artista fazer do fazer artístico um fazer político também?

SP: Não consigo pensar em arte sem ação político-social. Fui criado e arrebatado por ela desta forma e só me sinto artista quando consigo subir no palco pra provocar e questionar a sociedade. Arte não é instrumento de transformação social, isso depende do espectador que aprecia e decide se o que vou mostrar muda, ou não, algo em sua vida. Acredito na arte como manifestação de provocação.

ZR: As ações do atual governo brasileiro são desastrosas em todos os campos, mas sobretudo no cultural e no social, com o desmonte de estruturas como o Ministério da Cultura e os conselhos de direitos, que eram os canais de participação social. Como você tem acompanhado esse cenário?

SP: Desastroso e cheio de retrocesso. Uma nação sem uma cultura, arte e educação solidificadas jamais conseguirá evoluir no trabalho, saúde, relações humanas, judiciária e legislativa. A cultura e a arte são processos fundamentais na formação humana de uma nação.

ZR: Depois de BR Trans você fez novela na Globo [ele interpretou Nonato em A Força do Querer, de Glória Perez]. Acredita que a visibilidade que você adquiriu favorece a causa pela qual você milita?

SP: Sim! A TV me possibilitou alcançar mais pessoas e poder ajudar, por meio da minha militância e arte, desconstruir paradigmas, enfrentar preconceitos e reduzir violências.

ZR: Sua peça vai ser apresentada em São Luís, mas você está viajando para o exterior. Pode falar um pouco sobre a viagem?

SP: Infelizmente não estarei nessa etapa de São Luís, pois estou de partida para o Festival de Cannes, onde estou no elenco de Bacurau, filme de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, o único filme brasileiro a concorrer na mostra oficial. É um grande ato estar presente nesse festival e neste momento em que a cultura se vê tão devastada por um governo e aclamada mundialmente através do audiovisual. Não poderia perder esse feito! Reencontro o Coletivo As Travestidas nas etapas Belém, Imperatriz e Palmas.

ZR: Além do elenco, já que BR Trans é um solo, que diferenças e aproximações você destacaria entre aquele espetáculo e Quem Tem Medo de Travesti?

SP: Quem Tem Medo de Travesti é uma espécie de continuação de BR Trans, pois eles trazem as experiências de encenação, dramaturgia e atuação que, hoje, configuram as pesquisas do Coletivo As Travestidas. Quem Tem Medo de Travesti é um trabalho cheio de questões reais e que parte da multimídia, música, teatro, dança e musical, variando entre o trágico e cômico.

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