Há uns 4 anos, Jack Broadbent tocava nas ruas de Amsterdã. Era um busker, um músico de rua. Faz slide guitar usando um cantil de uísque sobre as cordas do instrumento. Pelas artes e maravilhas da tecnologia, um vídeo seu tocando na rua viralizou e, no ano passado, Jack já abria shows para o lendário southern rock da banda americana Lynyrd Skynyrd. Foi apresentado, no Montreaux Jazz Festival, como “o novo mestre do slide guitar”. Agora, pela primeira vez, ele desembarca no Brasil para um show no Bourbon Street (eleita na semana passada uma das 100 melhores casas do ramo do mundo pela prestigiosa publicação Down Beat). Será no dia 8 próximo, quinta-feira, 22h30, na Rua dos Chanés, 127 (ingressos a R$ 75 e R$ 95). Broadbent concedeu a seguinte entrevista ao blog:
Por que o blues? Por que o slide guitar? Qual é o lance?

O jeito como cheguei ao slide guitar usando o cantil de uísque foi quase por acidente. Eu tava tocando em um pub e o dono do pub subiu do porão com uma caixa cheia de cantis de uísque. Olhei pra o cantil e pensei: “vou experimentar!”. Fiquei instantaneamente conectado, aquilo me deu liberdade para tocar com um estilo diferente e a energia era arrepiante. O blues é um sentimento, eu fui de fato influenciado por músicos antigos, dos anos 1920, 1930, até os anos 1950. Há um coração e uma verdade nessa música que é duro de descrever, mas fala ao meu coração num nível emocional. Creio que o blues, como nenhum outro gênero, tem essa conexão emocional.
Aqui no Brasil, Milton Nascimento costuma cantar “todo artista tem de ir aonde o povo está”. Você concorda?
Já se passaram muitos anos desde que eu toquei nas ruas, mas eu acho que Milton Nascimento está absolutamente certo, porque eu aprendi muito tocando nas ruas. O fato de você não ter um público cativo quando está nas calçadas faz com que você tenha que trabalhar ainda mais duro para atrair a atenção das pessoas e desenvolver um senso de espetáculo que seja distinto, um estilo. Eu me diverti muito tocando nas ruas e encontrei muita gente maravilhosa. Sinto falta às vezes, mas recomendo a todos que estejam começando. Mas hoje sou muito grato por ter um telhado sobre a cabeça, que me mantém abrigado do mau tempo. Hahahahahaha.

Abrir shows de Peter Frampton e Lynyrd Skynyrd era algo que estivesse em seus planos?
Acredite ou não, eu não era muito familiarizado com Lynyrd Skynyrd ou Peter Frampton antes que me fosse oferecida essa oportunidade de abrir shows deles. Mas eu rapidamente me tornei fã da banda.Também, tocar na frente de 10 mil, 15 mil pessoas por noite era algo que eu nunca tinha experimentado antes. Eu fiquei apaixonado por aquelas audiências massivas. Também fiz grandes amigos durante as turnês e estou gravando um álbum de rock, blues e folk music com Peter Keys, tecladista do Lynyrd Skynyrd, em um estúdio de Nashville. Em termos de influência, ouvi muito Little Feat, Steely Dan, Joni Mitchell e, é claro, Neil Young.

Muitos críticos veem o blues como uma forma de arte conservadora, sem grande evolução. Como vê essa afirmação?

Acho que, na verdade, o blues é um gênero que está sempre mudando, até o ponto em que o termo “blues” se tornou algo meio vago. Eu chamo a mim mesmo de bluesman, mas eu não toco realmente o blues de 12 compassos, sou mais do som do Delta, um artista das raízes e do folk com um coração do blues. Acho que é importante se manter tentando coisas novas. Neil Young é uma inspiração para mim no sentido de que ele segue fazendo uma música que desafia os gêneros. As pessoas falam em manter o blues vivo e eu acho que, se o blues está sendo relevante para as próximas relações, é porque ele se mantém aberto à inovação e o crescimento.

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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter de jornalismo cultural desde 1986 e escritor, autor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019) e Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021)

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