poeta no espelho (foto: jotabê medeiros/agência poltrão)
Noite passada fui a um sarau de poesia na Vila Romana.
38 Social Clube era o endereço. Havia poetas de cavanhaque, poetas de óculos escuros, poetas do vídeo e da palavra, poetas que declararam seu amor pelos loucos, poetas que queriam o efeito de um meme de internet e outros que lamentaram divertidamente não ter morrido por volta dos 20 anos, como Álvares de Azevedo.
Tomavam vinho e coca-cola e deram boas risadas.
Foi então que conheci Claire Feliz Regina.
Ela não era poeta até os 79 anos. Ou era, mas ocupava-se no trabalho de auditora da Receita Federal.
Agora, ela vai fazer 90 anos.
Foi descoberta pela poeta Elisa Lucinda.
Claire fala de maneira desconcertantemente simples de sexo e de sua imaginação feminina no coração das obsessões do mundo masculino.
Na despretensão literária de Claire, esconde-se uma poeta astuta. À sua maneira, reinventa o poeta fingidor de Pessoa.
“Uma mulher como eu/Sempre mente/Mente o que não sente/Mas sente muito o que mente”.
Ela me lembrou a Orides Fontela, uma escritora que existiu antes da rendição, rejeitando o estereótipo de idosa.
Em 2014, a Patuá lançou seu livro intitulado Poemas Eróticos.
Pedi para fazer a foto dela na frente do espelho da Sociedade dos Poetas Vivos.
Ela me disse que sempre leva um de seus livros para sortear entre os presentes. Dessa vez, ela tinha me sorteado antes e me ofereceu o livro. Só disse que estava cansada demais para fazer a dedicatória ali, pediu que eu a encontrasse no Facebook e pedisse sua amizade, que depois ela escreveria para mim.