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O melhor da Virada é sempre caminhar pelo Centro. Emociona não é pouco é pra caralho. Iluminado, habitado como merece, pelo mendigo, o noia, o casal indie, a trupe hippie, o Mario Botolotto, as amigas Suellen. No show do Gilberto Gil, uma hora lá do lado esquerdo do palco, em frente à Estação Julio Prestes, eu vi uma coreografia: um bad boy com dois cachorros pretos numa coleira, tentando se soltar e latindo para a mulher, que em vez de se assustar mandava beijinhos para os cães, e um catador de latinhas passando com um saco de lixo cheio delas, uma mulher com seus 50 e poucos encostada na mureta esperando Realce, as pessoas fazendo da árvore camarote e o malucão que veio caçoar a gente com um cartão telefônico, dizendo “já tem ingresso?”. Foram dois dias bem estressantes pra gente, o universo parecia conspirar para dar tudo certo, só que ao contrário. Acabou o açúcar em casa e tivemos de adoçar o café coado com mel. Mas aí você escuta o Arnaldo Baptista cantando “sim, sou muito louco, não vou me curar”. Vê seu garoto sorridente brincando de telefone de sucata, aqueles telefones feitos com barbante e duas latinhas (ou copos de plástico), e escuta ele cantando a vitória do Santos para a pessoa do outro lado “da linha”. E ganha um adesivo “felicidade se acha é em horinhas de descuido”, com a frase do Rosa. E vai ao banheiro do Teatro Municipal e flagra o desabafo de uma policial para outra: “E como esse chapéu aperta nossa cabeça? Chega a dar dor de cabeça”. E encontra um menino lendo gibi durante o show Cabeça Dinossauro, dos Titãs. Acha os Titãs uns animais e pensa como é que eles viraram esses babacas que são hoje, se eram uns animais, uns animais? Come um McChicken na calçada da 7 de Abril, toma uma cachaça verbal no Dona Onça com o Xico Sá, compra um tênis pirata Mad Bull na Galeria do Rock. Escuta a Flora Matos cantar o hino da mulher que descobre sua independência emocional após o término de um relacionamento. “Me apaixonei…por quem? Por mim”, e você chora, com uma certa vergonha porque, porra, você está ali semi-profissionalmente, fotografando a mina. A Virada ilumina nosso Centro enfermo e nos transforma todos em rapazes latino-americanos de Belchior.

* Texto originalmente publicado no blog da autora, Calunga Cor-de-Rosa

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