DA LAMA DE PAULÍNIA

Por que raios o Lynyrd Skynyrd é tão bom? É uma banda que tem pra mais de 40 anos, perdeu vários integrantes ao longo do caminho, Johnny Van Zant canta mascando chicletes, e as backing vocals da banda se vestem como se fossem animadoras de feira agropecuária de gado de corte – só que um feira lá de 1966.
Só tem uma explicação, e não é uma explicação muito sofisticada: é rock’n’roll sem frescura. Os músicos do Lynyrd Skynyrd não são do tipo que fazem música loucos para aparecer em capa de revista de celebridade ou ficar babando em caneca de apresentador de talk show. Fazem rock com o mesmo entusiasmo com que vão até o snooker jogar e tomar cerveja e fazer gracejos à garçonete gordinha.
Na noite de domingo, eles abriram já sem muita conversa, com Workin’ for MCA, primeira faixa do disco One More from the Road, primeiro disco ao vivo da banda, lançado em setembro de 1976, quase um ano antes do acidente que matou três de seus integrantes: o irmão de Johnny van Zant, Ronnie, e Cassie e Steve Gaines. O início era sagrado, pois sabiam que tinham de levantar uma plateia inteira que tinha sido abduzida pelos lamentos intermináveis de Peter Gabriel e Chris Cornell.
O coté Kill Bill do grandalhão Rickey Medlocke, com sua juba à David Carradine, grisalha e já do meio para trás, impressiona, e quando ele emparelha guitarras com Gary Rossington, os dois lado a lado, na beirada do palco, aí a coisa pega. O rock se apresenta por inteiro. O resto é firula.
Alguns dos músicos do Skynyrd foram roadies, como o próprio Medlocke (que pediu emprego para carregar instrumentos na banda e inicialmente o deixaram tocar bateria, instrumento que ele abandonou por não julgar saber tocar direito). Talvez por conta disso, coloquem paixão e despretensão no mesmo patamar (bom, não é regra, porque Noel Gallagher também foi roadie).
A seguir, emendaram outra canção cujo motor de combustão é o piano boogie-woogie sulista, I Ain’t the One. Foi Billy Powell, o ex-tecladista morto em 2009 (e compositor de Freebird), quem trouxe essa fagulha para o som da banda, e que o Skynyrd toca adiante. Skynyrd Nation, do disco mais recente, de 2010, veio no arrastão. Seus maiores sucessos, óbvio, só vieram no final: Sweet Home Alabama e Freebird. No meio de tudo, uma batelada de canções de manter acordado caminhoneiro: I Know a Little, What’s Your Name, T for Texas, entre outras.
Aqui e ali, pela plateia, uma ou outra bandeira dos confederados da Guerra da Secessão americana, um maluco segurando um boneco de palhaço no meio da multidão, garotos batendo a cabeça como se estivessem num show do Metallica. Assim como o ZZ Top, o Lynyrd Skynyrd tem esse parentesco primitivo com o metal, e com o blues, com as guitar bands, e com o stride piano, e com tudo que a gente costumava chamar de “boas influências” lá nos primórdios.

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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter de jornalismo cultural desde 1986 e escritor, autor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019) e Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021)

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