foto: naneto

Ganso parece um palito de sorvete enfiado num maxixe. Caminhando, não parece ter ginga, é durão. Quando ele fala, passa a mão pelo cabelo, e o olho é meio cor de mel, lhe confere uma suave confiabilidade. Sua aparente inadequação física é a mais enganosa possível: tem olhos de mosca, vê o que os outros não vêem (como se assistisse ao jogo de um helicóptero).

Neymar parecia mais volúvel, mas tem demonstrado notável capacidade de improvisação. Isso eu digo em relação aos pronunciamentos públicos, porque todo repórter sempre acha que pode pegar um escorregão de um molecão de 19 anos, mas ele não tem errado no atacado. “Deixa esses caras para lá”, disse, enquanto o couro comia com o Peñarol revoltado correndo no gramado.

Léo, por ser baixinho, às vezes tenta demonstrar mais hostilidade do que seria necessário. Quando está em campo, os ataques que inicia lá da meia-água são insidiosos, uma coisa meio tocaia, meio guerrilheira.

Danilo ainda tem cara de bebezão, e tem um jeito de correr que lembra o Toninho Cerezo, parece que os joelhos vão se chocar e derrubar o time todo em efeito dominó.

Zé Love nunca fugiu de uma dividida. E olha que eu já vi até o Santos jogando com Matonense, CSA de Alagoas, Juventus, e ele está sempre trombando com os zagueiros. Eu o anistio.

Arouca parece ter vontade de ser atacante. Isso é bom algumas vezes, mas é ruim em outras. Provavelmente, vive o momento mais sublime de sua carreira.

Adriano eu já detestei intimamente, achava-o um usurpador. Errou carrinhos, errou passes, errou posicionamento, até que o Muricy deu-lhe uma bússola de bronze e ele nunca mais errou.

Durval barra até pensamento, como já assinalou brilhantemente o Xico Sá.

Edu Dracena, eu compraria um fusca usado dele.

Pará é um pândego. É o Didi Mocó imitando a Maria Bethânia. Não precisa fazer nada, a gente já dá risada.

Rafael tem cara de carola, mas sua elasticidade não é nada cristã. Dia desses ele ainda vai sair por aí namorando uma dessas Mulheres-Melancia e entortar de vez, livrando-se da Marcha para Jesus.

Elano é o caipira galego clássico, os que eu conhecia na infância no norte do Paraná. Trabalhava o dia todo na lavoura e depois ainda atrapalhava todos os nossos ataques no campinho de terrão vermelho cianortense.

Alex Sandro (ou seria Alecsandro, ou Alexssandro?) é um falso pedreiro – parece que tem um tijolo nos pés, mas logo se mostra um marceneiro de corrimão neoclássico.

Esse era o nosso time. Não tinha como não dar certo.

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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter de jornalismo cultural desde 1986 e escritor, autor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019) e Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021)

4 COMENTÁRIOS

  1. tu não falaria com a diretoria do teu santos para emprestar o Danilo e o Adriano aqui pro meu Brasil na disputa da série c? só pra primeira fase, pra gente não ser rebaixado. depois, se eles não caírem de amor aq pelo meu xavante, a gente devolve inteiros para serem campeões do mundo em dezembro, prometo. Abraço. Roberto.
    Música da hora: Já fui uma brasa. Demônios da Garoa por supuesto?

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