palco de um homem só, por volta das 14h do domingo
Na Virada, temos de encarar o bafo dos nossos bêbados chatos, nossa falta de educação, de modéstia, nosso egoísmo, a falta de cavalheirismo, o oportunismo.
A Virada escancara nossa feiura paulistana, a carência crônica, a fragilidade existencial. O ser humano cronicamente inviável mostra sua cara na Virada, mijando no poste, quebrando garrafas de vodca e espalhando cacos de vidro, jogando caixas de CDs velhos na calçada, empurrando grosseiramente os fãs que tentaram guardar lugar na primeira fila para ganhar no grito o lugar.
Na Virada, somos obrigados a concordar que o casal de idosos dançando juntinho é bacana, é emocionante, mesmo que a música seja Entre Tapas e Beijos, que a gente não gosta.
Na Virada, a gente se emociona com artistas que não têm mais plateia ganhando uma de “presente”, ao menos durante uma hora.
Na Virada, eu vi um mendigo furtando o algodão doce de um velho vendedor que não teve energia para persegui-lo.
Na Virada, os exibicionistas afetivos fazem carícias íntimas e se beijam com um olho aberto, olhando para ver se alguém está vendo, pois não é possível ser lascivo sem testemunhas.
A Virada revela nosso pior lado burguês, quando a gente dá graças a Deus por ter dinheiro suficiente para descansar no restaurante, enquanto o povaréu se espreme na Avenida São João; quando a gente dá graças a Deus pelo crachá que dá acesso à área reservada, sem precisar ser espremido nas grades.
Este ano eu vi um lado interessante na Virada.
Não, não mudei de ideia em relação à relevância artística, continuo achando que a Virada não é o melhor lugar para quem procura pelo novo, pela invenção. Claro, foi bacana rever o Arrigo no Largo do Arouche, os escudeiros de Frank Zappa na Avenida São João. Mas tem muita farofa e pouco peru nesse banquete.
Mas, nesse espelho fosco que é a Virada, consegui finalmente ver pelo menos um lado interessante: é nela que somos obrigados a uma forçosa convivência com o “vizinho” de São Paulo que evitamos cumprimentar o ano todo no elevador ou na saída da garagem. O vizinho motorista pelo qual desenvolvemos ódio mortal no trânsito por conta de uma fechada, ele está ali do lado na Virada, com o filho vestindo a camiseta do Corinthians.
Toda São Paulo está maciçamente representada nessa monstra, do bêbado ao crackeiro, do batedor de carteiras ao policial relapso, da adolescente sonhadora ao travesti bonito. É a noite em que não adianta usar álcool gel para não se contaminar. A cidade renegada está te pedindo uma ponta de cigarro.
faço das tuas as minhas palavras. posso?
juva, vc não precisa pedir licença!
vamos ao SFC?
Quanto mais a população decobre a Virada mais a midia implica com ela. Ela nunca foi a salvação mas tem esse valor que você revelou. Muito legal. Tive exatamente a mesma sensação enquanto trabalhava na produção de um espetáculo mas fiquei com vergonha de dizer
Porra Jota, texto bonito pacas!!!
Valeu!
oi pai!
te amo!
where is my photo?
kisses
Laura
Hey, Pretucha!
Sua foto está no post de baixo. Leia e veja!
Santoooooooooooooooooosssssss!!!
Vai me dar um beijo hoje na expô?
J.
Hey, Piti, como vai a parada?
Sobre a Virada, parafraseando Mário Faustino: tanta euforia, mas tanta tristeza…