na margem do rio piedra eu sentei e chorei

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para terminar (por ora) esse assunto de rio tietê & que tais, uma história que estou lendo aqui, embasbacado. é do excelente livro “tietê – o rio que a cidade perdeu – são paulo, 1890-1940”, do historiador janes jorge, que me chegou por causa da reportagem, pelas mãos da rosane pavam.

o título já explica o livro, mas o livro em si esquadrinha o processo de assassinato do rio tietê, por quem mesmo?… por nós moradores desta cidade, cada um jogando minuto a minuto sua pazinha de lodo no defunto, desde a chegada de pedro álvares cabral.

mas embasbacado de vez eu fico a partir da página 80, quando janes descreve um tal projeto serra (ó o nome), conduzido a partir de 1925 pelo conglomerado canadense-anglo-americano tramway light and power company limited. a light, você sabe, mãe-avó da eletropaulo, da sabesp, dessas coisas.

era um monopólio, a light, e tinha adesão total do governo estadual (um ex-advogado da light “presidiu” o estado de são paulo entre 1924 e 1927).

e o que o formoso conglomerado fez com os dois principais rios paulistanos está explicado nos seguintes trechos:

“(…) ardilosamente, a Light alterou o seu projeto inicial, o que trouxe conseqüências desastrosas para São Paulo e cidades próximas. Primeiro, conseguiu uma concessão do governo estadual para retificar o rio Pinheiros em troca do direito de propriedade sobre as várzeas inundáveis saneadas, que foram posteriormente vendidas. As várzeas do Pinheiros foram definidas, por esse contrato de concessão, como as áreas atingidas pela água do rio com base na maior cheia registrada. Por isso mesmo, em 1929, a Light provocou a maior enchente da história da cidade, ao abrir as compotas de Guarapiranga quando os rios paulistanos já estavam altíssimos em virtude de vários dias de chuva intensa. As águas do Pinheiros e do Tietê avançaram sobre terrenos onde jamais imaginaria que isso pudesse ocorrer.

“Outra modificação fundamental no projeto Serra foi que as águas do Tietê foram incorporadas ao complexo hidroelétrico de Cubatão com a reversão do curso do Pinheiros retificado, através das usinas elevatórias da Traição, construída na altura do Butantã, e a de Pedreira, na represa do rio Grande. O Tietê, represado em Parnaíba, passaria a ser afluente do Pinheiros e as águas de ambos, assim como as da represa de Guarapiranga, iriam para a represa do rio Grande. Correndo ao contrário, os maiores rios da cidade, Tietê e Pinheiros, tornaram-se tributários do pequenino rio das Pedras e passaram a acionar as turbinas em Cubatão. Desse modo, a Light, em um só lance, se apropriou das várzeas do Pinheiros, conseguiu aumentar a produção de eletricidade com menos investimentos em obras e impedio que as águas do Tietê seguissem em direção à hidroelétrica de seus competidores – que, diante disso, abandonaram seu projeto, vendendo suas instalações para a própria Light”.

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parece enrolado, eu sei. mas deixa só eu rascunhar em forma de indagações o que (acho que) entendi, boquirroto boquiaberto.

a) enchentes podem ser provocadas por mãos humanas quando elas a seu bel prazer abrem e fecham comportas de represas?!

b) o rio tietê era curvo e ficou “reto” por ação daquelas mesmas mãos, e/ou de mãos parceiras?!

c) essas mãos (ou digo patas?) também inverteram o curso dos rios pinheiros e tietê?! viraram os rios do avesso?!, transtornaram os pobres coitados de pontacabeça?!, puseram o norte no sul?!?!?!?

d) o pomposo shopping iguatemi e bairros paulistano “chiques” como jardim américa e jardim europa foram edificados à custa dessa tramoia especulativa e do assassinato do rio pinheiros?!

e) e por fim, parando agora de fazer tanta pergunta: toda vez na vida que passei ali pela marginal eu me cocei de vontade de saber por que a usina elevatória de traição tinha esse nome tão eloquente, curioso e contundente, t-r-a-i-ç-ã-o, e-l-e-v-a-t-ó-r-i-a. agora entendi.

enfim, só para arrematar, o parágrafo de conclusão desse trecho do janes jorge:

“Monopolizando grande parte dos serviços públicos em São Paulo, atuando em diferentes negócios, com influência na imprensa e próxima ao poder, entende-se por que a Light era conhecida popularmente como o “polvo canadense, já que seus tentáculos penetravam por toda a cidade e arredores. E, quando o polvo estende seus tentáculos por sobre outra criatura viva, geralmente, é porque ela é sua presa“.

e a gente aqui com medo de cobra, aranha, urubu, ratazana…

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