jovens fas de kanye west fazem a festa no gramado do grant park

E acabou. Obama não veio. Kayne West fez suspense, mas o homem cancelou a aparição no Lollapalooza, festival que tinha até barracas vendendo camisetas Obama 08. Não resta a menor dúvida de com quem estão os jovens americanos. Foi o último dia em Chicago, então vamos aos fatos:

1. Amadou & Mariam são dois ETs nesse mundo dos megafestivais. O gritinho de guerra de Mariam, xôxôxôxôxô, pega desprevenida a galera dourada e vai enchendo o ar, uma pulsão irresistível que ninguém sabe dizer aqui de onde vem. O baixo francês, a percussão malinesa, as roupas azuis de Amadou & Mariam, seus vocais tão suaves quanto poderosos, o francês intruso. Le dimanche à Bamako c’est le jour de mariage. Missouko. As canções vão conquistando a platéia, que dança um som que já existia antes de seus tatataravós existirem.

2. The National vem a seguir, no mesmo palco. Outra coisa, completamente diferente. Dark, melancólico, algo ali entre o Velvet Underground e o Joy Division ou o Bauhaus, o pop britânico dos anos 80, mas com um tempero de meio-oeste americano – tudo turbinado por uma horn section.

3. Gnarls Barkley foi, para mim, o animal do festival. A voz e a performance elétrica do roliço Cee-Loo, mais uma fantástica big band de apoio, além da abordagem nova, nervosa, dos velhos soul, funk e R&B, tornam o Gnarls Barkley uma das coisas mais frescas e poderosas da música atual. Umas roupinhas de banda de formatura e um contrabaixo acústico assombrosamente tocado completam a cena. Por que não levaram ainda ao Brasil?

4. Nas imediações, shows que não foram memoráveis. Um James Brown sulista e branco chamado Paperboy tentava segurar a onda no palco Kidzapaloosa. Girl Talk repetiu o seu velho truque de encher o palco com gente da platéia e fazer uma rave no meio da tarde escaldante do festival. Mark Ronson coloca suas cantoras de apoio para dançar ensaiadinho até sentadas, e tateia aqui e ali em busca de alguma nova Winehouse para “inventar”, mas só encontrou cantores de pouco vôo livre. Seu senso déjà vu de glamour torra a paciência rápido. Slash apareceu para tocar com Perry Farrell, mas eu não estava lá.

5. Kanye West é certamente um dos mais caros shows que já vi. Tem uma abordagem meio Broadway, mas é ele à frente e o resto lá no fundo. Muitos robôs de luzes, fumaça, som grandiloquente. Mas é meio breguinha, para dizer a verdade. Meia hora de show e já tinha gente se mandando para dormir na grama. Kanye canta bem. Mas a opulência tecnológica e as melodias manjadas, além da incontinência verbal, fazem daquilo um blábláblá interminável.

6. Hoje, Nova York. Tem show de Sonny Rollins. Doido para ouvir St. Thomas e Oleo. Agora é o sagrado em cena.

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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter de jornalismo cultural desde 1986 e escritor, autor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019) e Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021)

1 COMENTÁRIO

  1. Boa JB.

    Lendo seus posts sobre o festival de Chicago não consegui deixar de pensar uma coisa: cria-se aqui no Brasil uma espécie de frisson para todos os sons que vêm lá de fora, especialmente EUA e UK. Parece-me que é mais pelo exótico, mais pela idéia de criatividade insuperável dos estrangeiros, do que pelas músicas de fato.

    O festival mostrou que isso é um pouco verdade?

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