mais uma série que aqui se inicia: as reportagens que nunca chegariam ao olimpo do jornalismo, mas que foram muito prazerosas de fazer. essa aqui saiu no portal estadao.com.

NO NINHO DO JAZZ
NEW ORLEANS – Já estava tudo pronto para a instalação do maior palco do New Orleans Jazz & Heritage Festival, um dos maiores do mundo, que deve receber cerca de 400 mil pessoas até seu encerramento, neste domingo, 4. Mas os trabalhadores que montavam o Palco Acura, que recebe shows de Robert Plant, Sheryl Crow, Santana, Stevie Wonder, Irma Thomas, Billy Joel e outros astros, se depararam com um inusitado problema: no meio de onde deveria ficar a platéia, acharam uma marreca chocando um ninho com 9 ovos.

A duas horas do show de Stevie Wonder, no meio de 16 mil pessoas, havia um pequeno cercado de cerca de quatro metros quadrados e um aviso: “Please, leave the nesting bird alone” (Por favor, deixe o ninho do pássaro em paz”). Os ovos estavam devidamente protegidos e o público se espalhava em volta tranqüilamente, respeitosamente.

Bom, considerando-se que cada ingresso para o festival custa em média US$ 50, e considerando-se que os ovos realmente se tornem patinhos, trata-se do espaço mais nobre e com a melhor vista do festival – e custaria em média uns US$ 800, se o espectador fosse gente, porque cabem 16 pessoas no cercadinho. “Não se trata sempre do dinheiro. Nós respeitamos a vida, é muito importante para nós”, disse ao jornal local Times-Picauyne o diretor do palco, Tague Richardson, que tomou a decisão de proteger os futuros marrecos em seu habitat natural.

O problema maior é que, até agora, a marreca não parece ter gostado muito do som que está rolando no festival. Ela não deu mais as caras e abandonou seus ovos. A torcida é grande para que a marreca do tipo mallard volte, mas nada da dona dos ovos. Adotou um comportamento de diva do jazz. Os espectadores que instalaram cadeiras em volta do cercado já até a apelidaram de Dinah, em homenagem a uma das maiores cantoras do jazz de todos os tempos, Dinah Washington.

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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter de jornalismo cultural desde 1986 e escritor, autor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019) e Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021)

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