FAROFAFÁ vive seus 15 minutos warholianos de fama. Hoje, somos o chic do chic do chic (como diria Maria Bethânia): fomos notícia n’ O Globo. Foi Ancelmo Góis, importante colunista político, quem mencionou este site independente preocupado, fundamentalmente, com a música brasileira. O texto (com título para lá de eloquente) é o seguinte:

Deixa a Ana trabalhar

O Ministério da Cultura aprovou a captação de R$ 884.175,62 para um site sobre música chamado Farofafá, coordenado por Pedro Alexandre Sanches, que mete o malho na gestão de Ana de Hollanda. Veja em http://bit.ly/xhnDQa. A aprovação da liberação da grana para o site inimigo está em http://bit.ly/GSEHIC.

Volto a falar sobre nosso quase-milhão a seguir. De cara, eu e Eduardo Nunomura agradecemos ao Globo e ao Ancelmo por ter, finalmente, tirado do anonimato a história que precipitou tanta farofa no ventilador, e que o nobre jornalista classificou, antijornalisticamente, como “meter o malho”.

Trata-se de apenas um link, que o leitor do Globo só poderá conhecer se tiver paciência de sair do jornal de papel, entrar na internet e acertar a digitação da sopa de letrinhas enfileirada, de modo algo cifrado, pelo Ancelmo em formato de endereço codificado de site de internet. É dura a vida de um leitor de jornal em 2012.

Aqui, neste link, você pode acessar diretamente (se ainda não o fez) a GRAVE denúncia que levou as tentaculares Organizações Globo e o reputado Ancelmo a retirar este site e, esperamos, essa notícia do anonimato.

Ancelmo não proferiu nenhuma palavra sequer sobre as evidências cabais de que a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, aceitou o cargo oferecido pela presidenta brizolulista Dilma Rousseff para agir em favor da corporação que ela também integra – o Ecad, Escritório Central de Arrecadação e Distribuição de direitos autorais devidos a criadores musicais pela execução pública de suas obras.

Sim, Ana de Hollanda também é compositora. E irmã de um moço velho chamado Chico Buarque.

Ancelmo não deu crédito à denúncia de FAROFAFÁ a ponto de imprimi-la na sopa de letrinhas do jornal que defende. Nem O Globo o fez. Nem a Globo. Nem a Folha de São Paulo. Nem a Veja. Nem o Estado de São Paulo – ou melhor, o Estadão o fez, numa trama kafkiana que envolveu o renomado jornalista cultural Jotabê Medeiros, a repórter de política Julia Duailibi e o colunista político e diretor da sucursal de Brasília do Estadão João Bosco Rabello.

Esse outro João Bosco (por favor, não confunda com o genial cantor e compositor mineiro homônimo) é (ou foi), também, empresário musical e cunhado de Paulinho da Viola. E parente de músicos-diretores de uma das sociedades administradoras (?) do Ecad, a Amar.

Ana e Chico de Hollanda, por sinal, são filiados à Amar.

Apesar de analista político, e não cultural ou musical, João Rabello escreve caudalosos artigos de defesa do Ecad no Estadão, em mais um dos muitos embaraços público-privados que perpassam esse caso.

Chico recebe grandes (e merecidas) somas de dinheiro do Ecad, a título de seus direitos autorais. Ana revogou dispositivos de seu antecessor no MinC que ameaçavam culpabilizar o Ecad, via Ministério da Justiça, por formação de cartel, entre outras impropriedades público-privadas, casa-grande & senzala. Eis a denúncia que Ancelmo, Globo, Folha, Estado, Veja, Record, Band, SBT etc. não percebem, ou simulam não perceber.

(Chico Buarque, via Estadão, já havia retaliado este jornalista recentemente, antes mesmo da nova rodada de denúncias chegar ao conhecimento de FAROFAFÁ. Tratava-se de uma reportagem, assinada por mim como colaborador do Estadão, sobre atos de censura praticados pelo ex-artista-mais-censurado-do-Brasil – nada a ver com MinC, até onde nossa vista alcançasse, mas curiosamente o assessor de imprensa de Chico, Mario Canivello, me acusou em correspondência privada na ocasião de fazer de tudo “para tentar voltar à grande imprensa”. Oi?)

Farofafa

Há semanas, Ana, o MinC e o Ecad se recusam sistematicamente a conceder entrevistas-esclarecimentos a este FAROFAFÁ. Calam-se e cremos por isso que consentem (sobre) nossas denúncias. Nunca é demais voltar a pedir: pai Chico, afasta de nós este cale-se.

No mais, FAROFAFÁ resulta confuso com a malícia (ou não foi malícia?) aprontada pelo Ancelmo na sua notinha, um tanto cifrada para leitores não-iniciados (leitores não-iniciados talvez saibam, mas colunas políticas frequentemente são utilizadas para passar recados públicos – embora cifrados – a adversários privados).

Pretendemos inaugurar nosso site de modo profissional (este site-blog que você tem diante dos olhos é experimental, em formato teaser, precário, feito sem nenhum centavo de dinheiro, seja público ou privado), assim que conquistarmos patrocínio, mecenato e/ou salários para ele.

Sabemos que o tipo de jornalismo que pretendemos praticar (leia aqui a Missão e os Valores do projeto) não interessa aos modelos atuais de funcionamento da “grande” mídia. FAROFAFÁ, do modo como sonhamos, não existiria na Globo, na Folha, no Estado etc. Até agora tampouco fora delas conseguimos existir com plenitude – suspeitamos que a “grande” mídia também seja um cartel, análogo ao do Ecad (ou seriam ambos um mesmo cartel?), no qual ninguém vá querer abrir frestas para sites e jornalistas “aventureiros”.

(O rapper Emicida, hit incontestável da nova MPB na internet, conta que já recebeu do Ecad R$ 0,56 pela execução de suas músicas no YouTube. Rappers, funkeiros, tecnobregas etc. – negros – não existem para a elite – mestiça – da MPB.)

Há muito nos percebemos incompatíveis com o modus operandi da indústria da qual saímos (eu e Eduardo já passamos por Folha, Veja e Estado, e cremos que nosso trabalho operário era prestigiado e reconhecido por nossos patrões, tamanha a quantidade de histórias que por lá publicamos). Sem outras saídas à vista, nos desabalamos desajeitadamente (sem paletó nem gravata, como cantaria nosso herói Marcos Valle) à caça de patrocínios, privados e/ou públicos.

No setor público, obtivemos autorização para captar patrocínios via Lei Rouanet (um mecanismo de mecenato do qual discordamos em inúmeros pontos, e nos quais, que ironia, a ministra Ana e seus parceiros e asseclas dão repetidas demonstrações de não querer mexer). Modéstia à parte, nosso projeto é bom, democratizante, tem espírito republicano etc. e tal.

O nosso até hoje invisível e impalpável quase-milhão seria gasto ao longo de 14 meses. Nosso plano de ação é cobrir a música VERDADEIRAMENTE popular brasileira, inclusive aquela que circula na internet, nos camelôs piratas e fora do eixo Rio-São Paulo, fora do eixo Globo-VejaFolhaEstado.

A ministra e o cartório de elite do Ecad (formada por gente de sobrenomes Jobim, Buarque de Hollanda, Moraes, Braga, Veloso etc.) tem dado demonstrações contínuas, brutais e grotescas de detestar esse “tipo” de música, e de jornalismo. Outro dia, na ribalta do Congresso Nacional, Ana de Hollanda insinuou abertamente que, se “a gente” não “cuidar”, a internet pode “acabar com a produção cultural” brasileira. Os protecionistas são ela e os que a sustentam, supostamente. Os “assassinos” (e as árvores) somos nozes.

Seja como for, as planilhas de despesas e custos imaginados por FAROFAFÁ estão à disposição pública. Futuramente, gostaríamos de pagar a jornalistas prestigiados e iniciantes do Brasil inteiro por suas colaborações regionalizadas, descentralizadas. Divididas por 14 meses, as remunerações para os dois fazedores do site ficam abaixo dos valores de mercado praticados por Globo, Folha, Estado, Veja etc. para arregimentar seus operários-jornalistas.

A propósito: quando saí da CartaCapital, em 2009, recebia R$ 12 mil mensais, sem carteira assinada. Quando saí da Folha, em 2004, após dez anos de bons serviços prestados (mais modéstia às favas), recebia cerca de R$ 7 mil mensais, com carteira assinada. Abro aqui minhas planilhas pessoais porque acredito que a função que exerço é de interesse público, e que jornalistas (e músicos) bem poderíamos (ou deveríamos) deixar nossas contas acessíveis ao nosso público. A quem mesmo interessa o anonimato dos salários?

Uma observação antes de prosseguir: principalmente por nossa própria incompetência, mas também pelo temor e/ou repulsa que causamos em patrocinadores quaisquer, não conseguimos captar até hoje nenhum real do “prêmio” a ser entregue pelos patrocinadores, mas pago pelo Estado. Embora isso nos desanime, ficamos felizes de poder esclarecer neste momento como é que essas coisas funcionam: volta e meia, quando a “grande” mídia deseja sabotar ou derrubar algum ministro ou presidente, publica “denúncias” distorcidas e contorcidas, da estirpe “governo dá 1 milhão de reais para blog de Maria Bethânia” ou “para show de Caetano Veloso produzido por Paula Lavigne“. Não é bem assim. O governo autoriza o mecenato, abatendo impostos de empresas para que elas se associem a projetos artísticos-culturais. Em geral, só os mais rentáveis e que dão visibilidade para a marcada da empresa conseguem captar recursos. Isso, sim, é que é prêmio, hein, ministra, hein, presidenta? A gestão Gilberto GilJuca Ferreira no MinC de Lula passou oito prometendo rever essa anomalia, mas não cumpriu. A gestão Buarque de Hollanda parou de prometer.

Mas, voltando à nossa confusão mental. FAROFAFÁ não consegue assimilar se há ou não há malícia na intenção do Ancelmo e/ou de quem no MinC, no Ecad, na MPB ou na política tenha plantado a fofoca farofafal nos ouvidos do jornalista. Não faz sentido.

Se queria mostrar que Ana, seu secretário-executivo Vitor Ortiz, seu presidente da Funarte (e avalista) Antonio Grassi e o MinC como um todo são democráticos e “premiam” até mesmo quem supostamente deseja derrubá-los, agradecemos. Nem temos esse propósito (nem somos “inimigos”), mas agradecemos, e apreciamos essa demonstração de espírito público – espírito republicano, além de conhecimento, sabedoria e inteligência, é tudo que esperamos de um ministério da CULTURA.

Do lado de cá, no papel também nobre de jornalistas, tentamos fazer o mesmo. Fazemos nossa parte não puxando saco de presidenta porque votamos nela (e votamos) nem de ministra porque nos “premia” com dinheiro público nem de patrões que possam nos boicotar por sermos, digamos, malcomportados. Somos independentes, e nosso desafio é continuar sendo, aconteça o que acontecer – até por isso nos sentimos o direito de cobrar do governo Dilma pela promiscuidade evidente com o Ecad.

Como segunda hipótese razoável, nos perguntamos sem parar desde essa manhã: o MinC pretende, com essa notinha, nos passar o recado-insinuação de que o “prêmio” será revogado caso continuemos a “meter o malho” em sua gestão? É impressão nossa, ou sinh’Ana tenta nos amedrontar?

Ou o torpedo indica que blogueiros e jornalistas independentes que ousarem questioná-los serão “retaliados”, quiçá censurados (por um governo do PT, de um partido de esquerda)? (A partir de agora, quem criticar o MinC terá divulgados os valores de seus convênios com o governo? Sobrará alguém vivo? Ou entenderemos que os não-críticos o são porque estão levando algum para o cale-se?)

Ou significa que a caixa de Pandora do sistema Ecad não deve se aberta de modo algum, seja por veículos “grandes” ou “pequenos” ou por CPIs? Já recebemos gritos de “cortem-lhe a cabeça!” do irmão, da irmã, da corporação cartorial, da corporação jornalística. Receberemos também de Dilma?

(A propósito, qual é o papel do senador petista Lindbergh Farias, sustentador do peemedebista Sérgio Cabral filho, governador carioca e filho de Sérgio Cabral pai, crítico musical, nos trabalhos da CPI do Ecad, discreta e raramente tratada como notícia pela mídia?)

Com todas essas perguntas ribombando em nossas cabeças (esperamos que na sua também), FAROFAFÁ pergunta: não era esse mesmo pessoal do MinC e da mídia que, capitaneado pelo sempre ativo cineasta gattopardo Cacá Diegues, acusava o governo Lula-Dilma de “autoritário”, “dirigista”, “stalinista”, “centralista” e tal e coisa? Não éramos nós (que acreditávamos no projeto de agência reguladora encampada pelo então ministro Gilberto Gil) os perigosos piratas que pretendiam colocar mordaça, censura, cinto de castidade e guilhotina no pescoço do Brasil?

Apelando para um meme desgastado: ãhã, rainha Ana da Hollanda, senta lá, lá na sua cadeira alaranjada decorativa. Mas deixa a gente trabalhar!


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6 COMENTÁRIOS

  1. Olha, vocês deveriam criar uma área no site para os leitores poderem ajudar vocês a financiar essa empreitada em prol da cultura brasileira. Sem brincandeira, Farofafa é uma trincheira das mais valorosas no combate as falanges feudais da máfia cultural tupiniquim.

  2. “denúncia” com link em jornal de papel é como dar uma dose de laxante pro sujeito e tirar o rolo do papel do banheiro, só de gozação. baaaixo.
    E é verdade, o ‘crowdfunding’ com os leitores é uma boa ideia

  3. Acho que um dos problemas das críticas feitas a Ana de Hollanda está nessa fixação com o Ecad. O Ecad é falho, é ruim e esquisito mesmo. Mas é uma instituição de natureza privada, mantida por entidades civis. Não é de um Ministro interferir na gestão ou no andamento de uma entidade privada.

    Talvez… se o debate tivesse mais foco em políticas públicas. Na reforma da Lei Rouanet, ou até na própria lei do direito autoral (se reclama que o Ecad age mal, mas se reclama quase nada da lei que legitima o escritório), na participação dos debates de articulação das redes de produção, faria mais sentido. Como Ministra, Ana de Hollanda tem (teorias de conspiração a parte) tanta liberdade dentro do Ecad quanto um ministro dos transportes tem em uma fábrica da Volkswagen.
    Ela é uma cantora que se vale do Ecad. Como Chico Buarque (e como Gilberto Gil! 😉 hehe). Acho não faz tanta diferença fazer essas associações (óó, ela é irmã de Chico, óó, a família Buarque de Hollanda está favorecendo o Ecad, etc). São instituições privadas. Tem MUITA brecha de política pública da cultura para mirar 🙂

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