Música infantil para crianças e adultos

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A Filarmonica de Pasárgada - foto: Edson Kumasaka/ divulgação
A Filarmonica de Pasárgada - foto: Edson Kumasaka/ divulgação
"Música Infantil Para Crianças Malcriadas" - capa/ reprodução
“Música Infantil Para Crianças Malcriadas” – capa/ reprodução

O bom humor da Filarmônica de Pasárgada é conhecido desde O Hábito da Força (2012), seu álbum de estreia. Herdeiro direto da vanguarda paulista – Marcelo Segreto, seu frontman, foi aluno de Aylton Escobar e Luiz Tatit, entre outros – o supergrupo mergulha no universo infantil em um disco que vai muito além do óbvio.

Música Infantil Para Crianças Malcriadas, o quinto álbum, é curto: nove faixas em menos de 20 minutos, com participações especiais, por ordem de aparição, de Suzana Salles (em “Despertador”), Tiquequê (“Escola”), Tom Zé (“O Alface é Infinito”, a que comparece em texto incidental o poema de Edward Lear [1812-1888] transcriado por Augusto de Campos e musicado por Cid Campos, gravado por Adriana Calcanhotto em Partimpim Dois [2009]), Hélio Ziskind e Ignácio de Loyola Brandão (ambos em “Sonho”), além de estudantes e professores do Colégio Equipe (coro).

A sequência acompanha um dia na vida de uma criança. E é no desenrolar dessa trama que a Filarmônica de Pasárgada alia sua música sofisticada a perguntas em geral desconcertantes feitas por crianças (e a pureza de suas respostas) para trazer temas urgentes (e adultos) para o centro da questão.

Ótimo exemplo é “Lição de Casa” (de Marcelo Segreto, autor solitário de todas as faixas do álbum), cuja letra transcrevemos na íntegra: “Quando a água evapora, qual é o seu estado?/ Estado de São Paulo./ Descreva a importância da floresta amazônica./ Ela produz muita fumaça e calor para o Brasil./ Cite pelo menos quatro animais aquáticos./ Garrafa pet, Bob Esponja, canudinho e pneu./ Qual é a importância dos rios pra humanidade?/ São eles que transportam meu cocô pro oceano./ Por quê que é importante ir pra escola todo dia?/ Pode pular essa?/ Cite os elementos químicos do ar./ Poluição e pum de gado./ Quais são os seres vivos que vivem por mais tempo?/ A minha árvore de natal e a vaca magra da Bovespa”.

Além das questões ambientais suscitadas nesta letra, ao longo do álbum a Filarmônica de Pasárgada aborda também o uso de tecnologias, a desigualdade social, o conflito de gerações e o incentivo à leitura, de maneira lúdica, sem perder a seriedade.

André Teles (eletrônica), Fernando Henna (acordeom), Ivan Ferreira (fagote), Leandro Lui (bateria e percussão), Marcelo Segreto (voz, violão e guitarra), Migue Antar (baixo), Paula Mirhan (voz) e Renata Garcia (clarinete) – com a participação especial de Sol Oliveira (piano em “Despertador”, “O Alface é Infinito”, “Tá Na Hora de Dormir” e “Sonho”) – passeiam por momentos como acordar, ir à escola, comer, fazer a lição de casa, brincar, ser chateado por adultos, tomar banho, dormir e sonhar – direitos e deveres de toda criança –, entre a seriedade com que os temas devem ser tratados e inevitáveis gargalhadas de quem está ouvindo o disco (só o resenhista ou alguém mais aí?).

A má-criação a que o título se refere está menos para a birra e mais para questionamentos que toda criança (e adulto) deveria ser capaz de fazer, como exemplifica a letra de “Já Pro Banho”, em que a negativa à ordem (ou convite) do título é explicada adiante: “Olha quanto químico que tem nesse shampoo/ Olha quanto químico que tem nesse sabão”.

O projeto gráfico de Música Infantil Para Crianças Malcriadas é, como o de todos os outros álbuns da FDP (como o grupo é carinhosamente chamado por seus próprios integrantes), assinado por Guto Lacaz (a exposição Guto Lacaz: cheque mate está em cartaz até 26 de outubro no Itaú Cultural). A Filarmônica de Pasárgada apresenta shows de lançamento do novo álbum neste sábado (12) e domingo (13), às 16h, no Teatro Anchieta (Sesc Consolação/SP), com ingressos entre R$ 12,00 e 40,00 (crianças até 12 anos não pagam).

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Ouça Música Infantil Para Crianças Malcriadas:

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