“Unidad Riddim”: uma volta ao mundo do reggae

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"Unidad Riddim (Oneness Records Presenta)" - capa/ reprodução
"Unidad Riddim (Oneness Records Presenta)" - capa/ reprodução

Baixista da banda francesa de reggae Dub Inc (antes Dub Incorporation), o alemão Moritz Von Korff fundou o selo Oneness Records, que desde 2015 vem se dedicando a lançamentos do gênero jamaicano.

Os gentílicos citados se justificam: um dos mais recentes lançamentos do selo é a compilação Unidad Riddim (Oneness Records Presenta) (Oneness Records, 2024), que reúne artistas das Américas e da Europa, incluindo os brasileiros Jhayam e Srta. Paola.

O reggae que ouvimos na bolacha digital tem muita influência da música latina. Além dos brasileiros, por suas faixas passeiam Afaz Natural (Colômbia), Dactah Chando (Espanha), Fidel Nadal (Argentina), Lengualerta (México), Morodo (Espanha), Raggabund (Alemanha), Sara Lugo (França), Tiano Bless (Chile) e Umberto Echo (Alemanha).

Srta. Paola - foto: Ourivânio Ouro/ divulgação
Srta. Paola – foto: Ourivânio Ouro/ divulgação

Srta. Paola reconhece o convite para o álbum como “uma grande honra e oportunidade de inúmeras pessoas conhecerem meu trabalho como cantora”. A reportagem perguntou à representante feminina do Brasil na coletânea sobre como ela lida com o machismo e o racismo, temas infelizmente ainda não superados no universo reggae e na sociedade em geral. “Isso parece entranhado na sociedade como doença e de ambos os sexos temos atitudes, vivências, histórias e que com toda certeza alguma vez já vivenciou o machismo e o racismo. Então, penso que a forma de superar é se destacando e mostrando o quanto você também é capaz. E é isso que faço todos os dias”, afirma, empoderada, dialogando diretamente com sua presença em Unidad Riddim.

Jhayam - foto: Premier King/ divulgação
Jhayam – foto: Premier King/ divulgação

Jhayam afirma: “Eu já acompanhava os lançamentos em vinil da Oneness e foi uma honra enorme ser convidado para representar o meu país nessa compilação com vários artistas que admiro. Fiquei muito feliz com a oportunidade de abrir mais essa porta e firmar mais essa conexão que possibilita cada vez mais o intercâmbio entre artistas aqui do Braza [Brasil] com produtores e selos e cantores do mundo todo”.

Em conversa exclusiva com FAROFAFÁ, ele relembra seu primeiro encontro com Moritz, que viria a desembocar nesta participação em Unidad Riddim. “Desde meu primeiro encontro com Moritz, em 2017, no Brasil, conversamos sobre a possibilidade de desenvolvermos algo juntos. Mantivemos o contato e foi em 2021, no período de pandemia, que realmente surgiu essa oportunidade quando recebi o convite e o instrumental “Unidad Riddim”. Eu desenvolvi uma letra, cheguei a gravar e enviar uma primeira versão, que com o passar do tempo achei que não encaixava tão bem com o arranjo do instrumental. Somente em 2023 criei a letra de “Antes Que Seja Tarde”, que encaixou como uma luva. Após receber as primeiras mixagens da música, tanto eu quanto Moritz sentimos a necessidade de uma voz feminina marcante. Foi aí que sugeri a participação da Srta. Paola, cantora que eu sempre admirei muito. Ela gostou da música e além de aceitar o convite foi muito profissional em se autogravar e trazer exatamente o que a faixa necessitava para soar da forma que imaginávamos. Logo após, com a mixagem e finalização, ficamos muito satisfeitos com o resultado do trabalho”.

Jhayam comenta também a importância de uma coletânea intercontinental revelando e mapeando artistas que cantam reggae em línguas que não o inglês. “O Brasil é um dos três países que mais consomem música por streaming digital no mundo, o que desperta o interesse de muita gente de fora. Já faz muito tempo que recebo contatos de pessoas de todo lugar querendo saber como isso funciona, como estabelecer parcerias e coisas do tipo. Com a ascensão dos sistemas de som amplificando reggae, nosso país se tornou um dos grandes consumidores de vinil do gênero também. Existem registros e um canal que mapeia todos os Sound Systems do Brasil e por lá já é visível que talvez seja um dos lugares onde essa cultura mais se faz presente atualmente. Na minha última passagem por Londres, pude me encontrar com alguns representantes da cultura que sabem dessa ascensão e já acompanham as movimentações por aqui há algum tempo. Inclusive durante a minha estadia por lá eu vi essa vontade deles de entender e se comunicar na nossa língua, como [o cantor jamaicano] Earl Sixteen cantando Jorge Ben, por exemplo, ou [o cantor e baterista inglês] Horseman rimando sobre sua experiência em Ubatuba. No Brasil, [o baixista, compositor e produtor] Victor Rice, que é um americano que já vive aqui há quase 25 anos e já me disse que aprendeu muito a língua portuguesa mixando minhas músicas, assim também com [o engenheiro de som britânico] Prince Fatty e foi assim comigo também, que aprendi o pouco que sei de inglês ouvindo e compreendendo a música reggae. Acredito que naturalmente um dos próximos passos desse movimento é surgirem produtores, novos artistas e parcerias com selos de países diferentes cantando em seus próprios idiomas, afinal a música jamaicana sempre foi internacional. Existem grandes bandas e festivais no Japão, na África do Sul, Austrália, Costa Rica e Estados Unidos, por exemplo. Eu torço para que surjam muitos desses projetos que impulsionam artistas do mundo todo que trabalham promovendo essa cultura”, anseia.

Moritz Von Korff - foto: Toine (@photocompulsif)/ reprodução Instagram
Moritz Von Korff – foto: Toine (@photocompulsif)/ reprodução Instagram

Moritz Von Korff comenta a escalação do time: “Eu simplesmente pesquisava muito na internet sobre artistas de determinados países. Às vezes eu já conhecia alguns deles por nomes ou músicas ou porque os encontrei em uma turnê. Levei em conta também a popularidade e simplesmente a acessibilidade, as respostas que tive”, revela.

“A maior parte das gravações foi feita virtualmente. Conheci alguns dos artistas antes ou depois das gravações, como Fidel Nadal e Lengualerta e também Jhayam, que conheci em um festival em São Paulo, onde eu estava tocando há cerca de 10 anos com o Dub Inc. Raggabund são alguns irmãos de longa data que cresceram em minha cidade natal, Munique, apesar de suas origens peruanas. Conheço os dois irmãos há cerca de 25 anos”, ele comenta o processo de gravações, revelando como se deram alguns encontros.

“A ideia básica foi escrita pelo tecladista francês Frédéric Peyron, com quem também toco na banda Dub Inc. Ele também tocou acordeom no Unidad Riddim. Eu peguei a ideia básica e trabalhei nela para aprimorá-la. A guitarra foi gravada pelo meu irmão alemão Stefan Tabea, da banda Onedrop, e a bateria pelo baterista jamaicano Ancient Kick. A mixagem e a masterização foram feitas pelo meu parceiro de longa data na gravadora, Umberto Echo”, finaliza, falando um pouco do processo de produção, além do estabelecimento e desenvolvimento das parcerias que compõem o álbum.

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Ouça Unidad Riddim (Oneness Records Presenta):

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1 COMENTÁRIO

  1. Essa vibe riddim tem tudo a ver com a cultura Sound system. Já tive o prazer de fazer apresentações com Tiano e Jhayam. E tenho dubplates gravados com Jhayam para o Highvibesoundsystem.

    São Luís está carente dessa vibe sound system. Uma nova Cena e um novo olhar.
    Estamos trabalhando para que isso aconteça, juntamente com Doctor Reggae.

    A luta é árdua, mas a vitória é certa!

    A luta continua…

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