Morreu em Fortaleza nesta segunda-feira, aos 58 anos, o violonista e compositor Tarcísio de Lima Carvalho, o Tarcísio Sardinha, um virtuoso do violão e mestre de toda uma geração de músicos brasileiros. Ele estava internado desde 9 de janeiro e os amigos, que eram centenas, chegaram a fazer uma ação em março para ajudar a custear as despesas de seu tratamento.
Considerado uma referência do choro moderno, Sardinha era autodidata e tocava profissionalmente desde os 15 anos. Nasceu em São Luís do Maranhão, mas como cresceu em Fortaleza, considerava-se cearense. Certa vez, ao constatar que o violonista não era alfabetizado musicalmente, o maestro Eleazar de Carvalho, impressionado com sua proficiência, disse a Sardinha que ele tinha ouvido absoluto. Na ocasião, Sardinha vivia em João Pessoa (PB) na casa do irmão, que era músico da Orquestra Sinfônica da Paraíba, regida então por Eleazar.
Seu apelido Sardinha foi dado por um sargento da Base Aérea de Fortaleza que tinha um conjunto de choro. Tarcísio tinha 16 anos e fez um teste para entrar no conjunto do sargento. Por ser muito magro e ostentar um bigodinho fino, na época, o oficial (que duvidava de sua capacidade até vê-lo tocando) o achou parecido com o notável violonista e compositor Garoto (1915-1955), cujo nome real era Aníbal Augusto Sardinha. “Mas isso é uma sardinha”, lhe disse o militar. O apelido ficou.
Cavaquinho, bandolim, guitarra, piano: multiinstrumentista, Tarcísio confessava influências principalmente de Baden Powell (1937-2000) e Rafael Rabelo (1962-1995), que considerava insuperável. Em sua carreira, acompanhou a nata da MPB em shows e discos, astros como Fagner, Belchior, Ednardo, Amelinha, Fausto Nilo, Dominguinhos (artistas de quem foi grande amigo), Silvio Caldas, Sebastião Tapajós e o rei da lambada, Beto Barbosa, e do escracho, Falcão. Versátil e afável, dirigiu espetáculos de Fausto Nilo, Waldick Soriano e Clementina de Jesus.
Apesar do amplo reconhecimento entre seus pares, Sardinha era extremamente humilde e pouco afeito aos jogos da fama. Recentemente, virou escudeiro da filha caçula de Belchior, Vannick Belchior, que se lançou na carreira de cantora. Ele foi quem a orientou quando ela resolveu abraçar justamente os clássicos do pai famoso, e deu o impulso inicial à jovem artista.
Sardinha deixou, além da grande quantidade de fãs e amigos notáveis, como os guitarristas Mimi Rocha e Cristiano Pinho e o saxofonista Márcio Resende, um songbook com uma centena de canções que compôs em sua carreira, como Jumento com Coalhada, Mar de Iracema, Conversa de Bêbado e Fim de Tarde. “Vou levar da vida a minha música”, ele costumava dizer.