Beleza é uma palavra chave para definir “Verão de 85”, novo filme do diretor francês François Ozon, que estreia nas salas de cinema brasileiras nesta quinta-feira (3). Seja a deslumbrante paisagem praieira que serve de locação, ou os atores – mais que rostos e corpos bonitos –, a trilha sonora, de The Cure a Rod Stewart, ou a história em si, ainda que trágica. O filme foi selecionado para o Festival de Cannes do ano passado, que acabou não acontecendo mas divulgou os selecionados.
A trama envolvente alia uma narrativa romanesca e o uso competente de flashbacks. Mesmo quando o roteiro parece antecipar o que virá, Ozon nunca entrega nada de mão beijada ao espectador. Como o Meursault de Albert Camus, Alex (Félix Lefebvre) está sendo julgado por algo que só viremos a descobrir depois.
Com roteiro assinado pelo próprio diretor, baseado no livro “Dance on My Grave” (1982), algo como “Dance em meu túmulo”, em tradução livre, de Aidan Chambers, o filme remonta um espírito de época, com figurino impecável: os anos 1980, de menos liberdade (sexual, inclusive), mesmo se considerarmos a França um país mais avançado – antes de qualquer acusação de síndrome de vira-latas ou coisa que o valha, lembremos que em 1985, por exemplo, o Brasil saía de uma ditadura militar que durou 21 anos.
“Verão de 85” foi filmado em película, de modo a ser ainda mais fiel ao período retratado. A fotografia (com direção de Hichame Alaouie) é magnífica.
Ao conhecer David (Benjamin Voisin), que o salva de um acidente com um pequeno barco, Alex projeta nele o amigo dos sonhos e acabam se tornando mais do que isso. Herdeiro de uma loja de artigos de pesca e material esportivo marítimo que toca com sua mãe (Madame Gorman, vivida por Valeria Bruni Tedeschi), o primeiro acaba se tornando seu patrão, ao mesmo tempo em que mantêm um romance secreto que termina de maneira trágica, deixando uma promessa por ser cumprida.
O par de protagonistas foi indicado ao César na categoria revelação masculina. Merecem destaque também as atuações de Melvil Poupaud (que interpreta o professor Lefèvre, espécie de guru da galera que goza da confiança de Alex durante o processo que enfrenta) e Philippine Velge (que vive Kate, uma inglesa que visita a França para se aprimorar no idioma e acaba ocupando lugar de destaque na trama).
Rotular a obra de “adolescente” nos levaria a um reducionismo; de “homossexual”, a um preconceito. É da jovem Kate a sábia lição: precisamos ter cuidado com o que projetamos nas pessoas. O que certamente vale para tudo na vida.
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Veja o trailer: