Teixeirinha – Coração do Brasil, de Daniel Feix

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Teixeirinha - Coração do Brasil, biografia de Daniel Feix
A biografia Teixeirinha - Coração do Brasil, de Daniel Feix, penetra no mundo fascinante e sertanejo de um dos primeiros astros da periferia dos Brasis.

Uma biografia penetra no mundo fascinante e sertanejo de um dos primeiros astros da periferia dos Brasis, Teixeirinha

Em 1960, uma canção regional, de sotaque fronteiriço, bombacha e erros de concordância ganhou todos os aparelhos de rádio do Brasil, tornando-se inescapável. Era Coração de Luto, do gaúcho Teixeirinha, que Caetano Veloso definiu (fascinado) como um “escândalo estético”, o crítico Sérgio Cabral chamou de “grosseria” (pediu sua interdição à Censura) e que fez o apresentador Flávio Cavalcanti, em acesso de fúria, quebrar dezenas de discos em seu programa e pisar neles. O País, entretanto, pensava diferente e fazia filas nas lojas para comprar o LP que continha a canção, O Gaúcho Coração do Rio Grande, em novembro de 1960. No Rio de Janeiro, o representante da gravadora Chantecler ofereceu o disco a um grande lojista, que recusou dizendo que não vendia “porcaria”. Dias depois, o comerciante ligou aflito ao representante: “Me mande essa porcaria do Teixeirinha que o povo está invadindo minha loja!”.

Essa história, de como o cantor, compositor, radialista, ator, trovador e produtor de cinema Teixeirinha se tornou um ídolo à revelia da vontade do bom-gosto dominante, vendeu 25 milhões de discos, foi carregado por multidões em Pelotas (RS) e em Catolé do Rocha (PB), montou uma produtora de cinema, fez 12 filmes, excursionou pelos Estados Unidos e se tornou um dos “20 gaúchos do século XX”, segundo levantamento da RBS TV (só ombreado por Elis Regina e Lupicinio Rodrigues, à frente de Leonel Brizola), está agora inteirinha contada no livro Teixeirinha – Coração do Brasil, do jornalista Daniel Feix, editor do jornal Zero Hora.

Capa da biografia Teixeirinha - Coração do Brasil, de Daniel Feix
Teixeirinha – Coração do Brasil, de Daniel Feix

Outsider da canção nacional, como definiu Feix, Teixeirinha abriu caminho para a fama com uma dolorida canção autobiográfica. Coração de Mãe contava a história de sua progenitora, Ledurina, que morrera em 1936 em um incêndio – acendera uma fogueira no quintal e, apanhada por uma crise de epilepsia, caiu dentro do fogo. Sozinha, quando foi socorrida já era tarde. A canção (morreu queimada no fogo/ morte triste/ dolorida) ficou conhecida de forma sarcasticamente macabra, na infância dos que vivemos no Sul do País, como “churrasquinho de mãe”.

Com a acordeonista Mary Terezinha, sua companheira por 22 anos (um caso de bigamia quase trágico), o gremista roxo Teixeirinha ditou as regras da canção regionalista popular até sua morte, de câncer, em 1985. Hoje, é cult, mas foi amplamente hostilizado em seu tempo. O livro de Feix é, além de amplamente documentado e fundado em pesquisa profunda, muito afetuoso e espirituoso. “Mesmo os tropeiros choram”, escreve o autor. Imprescindível para se conhecer os desvãos da alma brasileira até o Sul mais profundo.

Teixeirinha – Coração do Brasil. De Daniel Feix. Diadorim Editora, 250 págs., 60 reais.
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