O mote do filme argelino Papicha é a guerra cultural, observada pela perspectiva feminina. Nos anos 1990, na Argélia ocupada por tropas francesas em meio à Guerra Civil (1991-2002), um grupo de universitárias tenta viver longe dos preceitos do fundamentalismo islâmico. As jovens burlam como podem as normas vigentes na sociedade argelina: fumam e se maquiam, frequentam festas com música eletrônica, namoram. Nedjma, a protagonista, é apaixonada por moda e planeja um desfile na universidade, no qual subverterá os trajes femininos que cobrem os corpos e, descobrimos aqui, servem também para ocultar armas.
As moças são reprimidas de todas as maneiras, e é aí que acontece a guerra cultural. “Não beba de pé, satanás vai ver”, adverte uma das menos avançadas das meninas. “Alá vai te pendurar pelas sobrancelhas”, zomba Nedjma, insurgente contra aqueles que abusam da religião. Pela cidade empobrecida, cartazes e pichações norteiam a guerra entre culturas. A maioria das manifestações exigem que as mulheres cubram os corpos. “Desculpa por estar viva”, reage a inscrição em uma parede.
As garotas enfrentam obstáculos iguais aos de mulheres em qualquer lugar do planeta: repressão, assédio sexual, o dilema do aborto, o bromo misturado à agua para reduzir o impulso sexual. Acima de entre Ocidente versus Oriente, a guerra é entre machismo e feminismo, e o inimigo está espalhado por todos os cantos do campo de batalha. Em Guerra Civil, todos os lados espezinham o país natal e querem abandonar o país, “a Argélia é uma grande sala de espera”. Nedjma, a personagem imaginada pela diretora argelina Mounia Meddour, em seu filme de estreia, é a figura que pretende ficar, apesar de todas as imensas dificuldades. Contra tudo e contra todos, ela fica mais forte a cada novo golpe sofrido.