querer o meu não é roubar o seu

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só para encerrar este rápido ciclo raulseixista aqui no blog, proponho que a gente cruze as linhas paralelas de dois (trechos de) textos que hoje estão rodeando a minha cabeça feito mosquitos. um é do filósofo político renato janine ribeiro, e foi publicado hoje (17 de julho de 2005) no “mais!”, sob o título “o chão ensaboado do príncipe”. outro é dos compositores e músicos populares raul seixas, cláudio roberto e marcelo motta, e veio a público em 1975, no disco “novo aeon” (é o texto da faixa-título do álbum).

repara só como o brega & o chique estavam/estão/estarão dizendo coisas parecidas e complementares umas às outras. fico feliz de, no meio de 2005, concordar tanto com um quanto com o outro, com entusiasmo idêntico-complementar. (ah, e agradeço ao walter garcia, que no debate de ontem no sesc ipiranga ajudou a esclarecer pontos que também são parentes dos que vêm aqui embaixo.) os grifos & itálicos são todos meus, os acertos & erros são todos nossos.

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“(…) e no entanto, em nosso país, o discurso público, da mídia e das pessoas privadas, é o do moralismo – de um moralismo que nem mesmo seus porta-vozes praticam. ganharíamos com mais sinceridade. porque um traço fascinante e apavorante de nosso tempo é que estamos todos no mesmo barco. (…) costumo dizer que, no trânsito como na política, quando os brasileiros não sabem onde ir, viram à direita. a ética convencional é também uma forma nossa de reação automatizada. quando nos sentimos em risco, bradamos nossa dignidade ética. (…) mas é uma ética reativa, defensiva, não afirmativa – uma ética do medo, não da construção do futuro. (…) a ética não está pronta. está por se construir e talvez não se oponha mais tanto quanto antes à política.”

2
“s sol da noite agora está nascendo. alguma coisa está acontecendo. não dá no rádio nem está nas bancas de jornais. em cada dia ou em qualquer lugar, um larga a fábrica, o outro sai do lar. e até as mulheres, dita escravas, já não querem servir mais. ao som da flauta da mãe serpente, no pára-inferno de adão na gente, dança um bebê, uma dança bem diferente. o vento voa e varre as velhas ruas. capim silvestre racha as pedras nuas. encobre asfaltos que guardavam histórias terríveis. já não há mais culpado nem inocente, cada pessoa ou coisa é diferente. já que assim, baseado em que você pune quem não é você?. querer o meu não é roubar o seu, pois o que eu quero é só função de eu. sociedade alternativa, sociedade novo aeon, é um sapato em cada pé, é direito de ser ateu ou de ter fé, ter prato entupido de comida que cê mais gosta, é ser carregado ou carregar gente nas costas, direito de ter riso de prazer e até direito de deixar jesus sofrer.”

ié-yeah! o roqueiro cafona é o filósofo chiquérrimo… & vices… & versas…

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Editor de FAROFAFÁ, jornalista e crítico musical desde 1995, autor de "Tropicalismo - Decadência Bonita do Samba" (Boitempo, 2000) e "Como Dois e Dois São Cinco - Roberto Carlos (& Erasmo & Wanderléa)" (Boitempo, 2004)

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