MEMÓRIAS DE SHIBUYA

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barraca com objetos achados no lixo de um dos catadores de latinha do bairro de shibuya, em tóquio
  • Tudo é muito limpo, mas você quase não vê ninguém limpando (o que leva a crer que se trata de um processo contínuo).

  • Não tem gordo ali ou eu perdi algo?

  • Não haverá ninguém te olhando pelo fato de você ser o único ocidental no metrô.

  • Não haverá ninguém te boicotando pelo fato de você ser o único ocidental na cabine do karaokê.

  • Mesmo sabendo que você não sabe japonês, dizem tudo em japonês no caixa.

  • Difícil entrar num restaurante ruim, é quase loteria.

  • Riem quando você pede mais comida do que é capaz de engolir.

  • A água é mais soft, disse alguém, e de fato eu que prescindo dos cremes senti algo melhorar.

  • Cerveja parece subir mais rápido nos japoneses do que em mim.

  • Os barmen, os cozinheiros e os chapeiros nunca olham de soslaio para conferir se você gostou do drinque ou da comida.

  • Eles têm homeless, e eles são quase tão estilosos quanto os clochards.

  • Tudo parece difícil de interpretar, mas breve as conquistas serão comemoradas com socos no ar, como Pelé – decifrar o metrô será a primeira delas.

  • Pode parecer balela, mas aprendi a fazer poda de árvores num dos inúmeros programas de TV que lembram Ana Maria Braga.

  • Fiz amigos mais facilmente em Tóquio do que em Nova York.

  • Senti algo mais sagrado no Jardim de Bashô do que no Santo Sepulcro.

  • Não parecem achar grande coisa o nosso esforço de dizer konitchiwa ou ohayo gozaimasu – tipo “não é mais que sua obrigação, gaijin”.

  • Um recepcionista do hotel elogiou o chinelo japonês que eu ganhei do DJ Krush, e aquilo me deixou envaidecido.

  • Amam o J-Pop mas gostam mais é de andar em bandos.

  • Fazem fila na frente da Tower Records de manhã antes de abrir, e adoram aquela que (me disseram) é a última Tower Records do planeta.

  • A polícia deles é quase invisível.

  • Os taxistas usam luvas brancas de algodão, assim como os velhos que orientam as saídas das garagens (como no poema de W.H.Auden).

  • Os ideogramas no asfalto são uma das coisas mais chiques.

  • Eles amam o design e não têm preconceitos contra as coisas aparentemente insignificantes.

  • Organizam os estacionamentos de bicicletas sem nenhuma treta.

  • As vias de pedestres têm mão, uma direção para ir, outra para voltar.

  • Os octogenários quase sempre usam chapéu e camisas floridas muito lindas, às vezes com coletes.

  • As jovens japonesas parecem ter uma admissão tácita para com a tara do homem japonês pelas ninfetas. Ninfetizaram todo seu guarda-roupas.

  • Os  japoneses deles são mais alegres que os nossos, me pareceu.

  • Muitas vezes, alguma rudeza no condutor do ônibus parece seletiva, mas é democrática: ele é rude com todos.

  • Toda escada rolante de hotel parecia a escada rolante que a Scarlett subia, no filme.

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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter desde 1986 e escritor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019), Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021) e O Último Pau de Arara (Grafatório, 2021)

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