Apresentações do espetáculo acontecem às 18h e 21h, no Teatro Sesc Napoleão Ewerton
O ator Silvero Pereira apresenta nesta sexta-feira (7), em duas sessões, às 18h e 21h, no Teatro Sesc Napoleão Ewerton, o espetáculo “Pequeno monstro”, livre adaptação de conto de Caio Fernando Abreu (1948-1996), com direção de Andreia Pires, costurado por histórias pessoais do artista e de outras pessoas LGBTQIAPN+, denunciando um cenário triste e real de machismo, homofobia, intolerância e violência.
A trajetória de Silvero Pereira é marcada por uma ética que imprime uma carga política em seu repertório, sem nunca deixar de fazer arte: um artista consciente de sua origem e de seu lugar.
Vencedor de prêmios como Grande Otelo, Guarani e Extra, Silvero Pereira ganhou notoriedade, ainda, por ter vencido o The Masked Singer Brasil, da Rede Globo, ano passado, e por ter interpretado Lunga, em “Bacurau” (2019), de Kléber Mendonça Filho (que estreia hoje “O agente secreto” nas salas de cinema brasileiras) e Juliano Dornelles.
As duas sessões de “Pequeno monstro”, com Silvero Pereira, integram as comemorações de sete anos do Teatro Sesc Napoleão Ewerton, casa de espetáculos consolidada no cenário cultural do Maranhão. Os ingressos custam entre 20 e 40 reais e podem ser adquiridos na plataforma Sympla. A classificação indicativa é de 16 anos.
Numa parceria entre a Rádio Timbira FM (95,5) e o FAROFAFÁ, Silvero Pereira conversou com o jornalista Zema Ribeiro (você pode ouvir a entrevista ao fim do texto).

SETE PERGUNTAS PARA SILVERO PEREIRA
ZEMA RIBEIRO: Quais as suas expectativas por este reencontro com o público ludovicense e o que a plateia pode esperar deste espetáculo?
SILVERO PEREIRA: Eu estou muito ansioso por este encontro. Há 10 anos eu estive em São Luís pela primeira vez, com meu espetáculo “Uma flor de dama”, dentro do projeto Palco Giratório, foi o Sesc que me levou pela primeira vez ao solo da ilha do amor, então poder voltar agora, com um trabalho de teatro, mais uma vez para essa cidade, em que eu já estive outras vezes, em projetos audiovisuais, em projetos de música, mas poder voltar com teatro vai ser muito especial, porque esse é um espetáculo que eu entrego meu coração para o público, eu entrego a minha história, eu conto quem eu sou, quais são as minhas feridas, quais são as minhas vitórias, então é um compartilhar com o público sobre quem o Silvero é de verdade. Então eu acho que vai ser uma apresentação muito especial, muito bonita e muito emocionante.
ZR: Como se deu o diálogo com Andreia Pires para a adaptação de um conto de Caio Fernando Abreu neste espetáculo com que você chega à São Luís?
SP: A Andreia, que é a diretora do espetáculo, a gente tem uma relação muito especial também, porque ela foi minha colega de faculdade, a gente se formou no Instituto Federal do Ceará, em artes cênicas, então a gente começou estudando artes cênicas juntos e nos formamos. Isso há quase 15 anos. E aí, de repente, agora eu me vejo nesse lugar de ter essa mulher incrível, fantástica, excelente coreógrafa, excelente diretora e uma pessoa maravilhosa podendo me conduzir num processo. Então você ter alguém que foi sua colega de sala, hoje ser a sua tutora, ser a sua diretora, isso me engrandece ainda mais enquanto artista, me coloca num lugar ainda mais amador da arte, amador do teatro, nesse lugar do amar, de gostar de fazer arte exatamente porque existem as relações, existem os contatos e a Andreia é um grande contato, uma grande relação.
ZR: O quanto há de real e pessoal nesta adaptação?
SP: O espetáculo é uma grande mistura. Eu tenho como fio condutor o Silvero, e eu vou contando diversas coisas do Silvero, mas isso se mistura com diversas outras histórias. Por que o grande objetivo do espetáculo é dizer que tudo isso que está acontecendo ali no palco não acontece só com o Silvero. É um problema social. Várias pessoas estão passando pela mesma situação ou situações semelhantes, então, a gente não pode, meu objetivo com o espetáculo é que as pessoas não saiam achando “ah, que apenas o Silvero passou por isso”, não! Existe um problema social que precisa ser resolvido e que várias pessoas estão passando pela mesma situação. Por isso que eu misturo tudo, assim, eu não deixo claro o que é o Silvero e o que não é, existem outras histórias reais misturadas com a minha para provar que esses acontecimentos, eles são gerais e não individuais.
ZR: Você esteve em São Luís há mais de 10 anos, com o espetáculo “BR Trans”, que assisti e com que me emocionei. Quais os principais pontos de convergência entre aquele espetáculo e este?
SP: Acho que quando eu estive há 10 anos, com o espetáculo “Uma flor de dama”, eu ainda era um ator iniciante no teatro, um ator muito curioso, um ator ainda tentando descobrir a minha maneira de estar em cena. 10 anos depois, muita coisa aconteceu, muita experiência eu absorvi e experimentei, então eu acho que agora as pessoas vão ter acesso a um Silvero mais maduro em cena, um Silvero mais consciente, um Silvero mais preparado, da cena, menos emotivo e mais consciente tecnicamente. Isso não quer dizer que a emoção não esteja presente, porque afinal de contas eu sou um ator emotivo em cena, mas essa emoção agora, ela está um pouco mais controlada, no sentido da técnica teatral, sobre quais os objetivos dessa emoção na cena. Então as pessoas podem esperar um Silvero mais preparado, um ator mais claro, mais consciente, mais maduro.
ZR: Diversas participações em novelas e séries tornaram você amplamente conhecido. Para mim, um personagem marcante é o Lunga, de “Bacurau”, de Kléber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Para você, o que significou fazê-lo?
SP: Fazer “Bacurau” foi um momento muito importante na minha trajetória. Lunga se transforma num personagem icônico do audiovisual brasileiro. Lunga hoje figura hoje entre os grandes personagens das histórias contadas no cinema nacional. E estar ali sendo esse personagem, para mim, representa muito, porque afinal de contas eu sou um garoto que nasceu no interior do estado do Ceará, através de uma família extremamente pobre, um pai pedreiro, uma mãe lavadeira, os dois semianalfabetos, eu estudei em escola pública a minha vida inteira, um garoto LGBTQIAPN+, então, assim, no contexto social, todas as adversidades estavam expostas, estavam ali na minha frente, eu consegui driblar tudo isso e consegui chegar no lugar que eu estou hoje, graças ao teatro, graças à arte, graças à televisão e o audiovisual. Então Lunga é um coroamento dessa trajetória e ele me coloca num patamar de um ator de reconhecimento e isso me deixa muito feliz.
ZR: Interessante você voltar a São Luís com um espetáculo que debate machismo, homofobia, intolerância e violência, num país que ainda é um dos que mais mata a população LGBTQIAP+ no mundo. Uma das companhias teatrais que você fundou em Fortaleza, As Travestidas, é formada por atores e atrizes transexuais, travestis e transformistas. Eu quero te ouvir sobre esta escolha e estas ferramentas na luta por uma sociedade mais justa e igualitária.
SP: Meu processo, enquanto artista, ele se deve exatamente sobre nunca esquecer de onde eu vim e quem eu sou, o que eu respondi anteriormente, sobre qual é a minha história, de onde eu venho, qual é minha família, qual é a minha identidade, e todos os percalços que eu passei, e todas as violências que eu sofri exatamente por estar nesses lugares. Então quando eu tenho uma potência dentro da arte, a visibilidade, principalmente, quando eu consigo enxergar que aquilo que eu faço pode atingir outras pessoas e, talvez, mudar esse pensamento, é onde eu me engajo mais, e por isso que todos os meus trabalhos, desde o início, até hoje, são trabalhos de consciência social, são trabalhos, não deixando de ser arte, jamais, acho que o ponto principal do que eu faço é ser um artista, eu produzo arte, eu faço teatro, mas todas as vezes que eu puder, dentro do meu ofício, conduzir isso com responsabilidade social eu vou fazer, e eu tenho feito isso ao longo da minha trajetória e me sinto muito contemplado, muito feliz com isso.
ZR: Ano passado você lançou o EP “Silvero interpreta Belchior”, revelando outra faceta sua que o grande público conheceu quando você venceu o The Masked Singer, da Rede Globo. Qual o lugar de Belchior (1946-2017) na tua formação e/ou memórias afetivas?
SP: Esse projeto “Silvero interpreta Belchior” é um projeto antigo, há 10 anos eu venho trabalhando nesse processo do ator-cantor, é um projeto que eu ainda pretendo circular bastante, São Luís é uma cidade que eu tenho certeza que a gente ainda irá fazer. Esse é um projeto muito emotivo para mim, ele faz com que a música atravesse as pessoas, que as pessoas se conectem com aquilo que o Belchior fala, e as pessoas saem um pouco mais felizes, mais encantadas e mais identificadas com todas essas histórias contadas através dos refrãos das composições desse grande artista, compositor importantíssimo para a música popular brasileira. Belchior chega para mim através do meu pai, meu pai é um apaixonado pela música, foi ele quem me ensinou a ouvir Luiz Gonzaga (1912-1989), Waldick Soriano (1933-2008), Reginaldo Rossi (1944-2013), Roberto Carlos e Belchior. Então desde pequeno eu tenho essa relação com a música por conta do meu pai e aí quando eu resgato essa história eu tenho todas as identificações, praticamente o que eu canto sobre Belchior é a minha história, eu me identifico com o que esse homem escreve, com esse rapaz latinoamericano vindo do interior, sem nenhum dinheiro no bolso, com o objetivo de amar e mudar as coisas, com as violências sofridas, como ele conta em “Fotografia 3×4”, sobre cortar o outro, a carne do outro com aquilo que se diz, com aquilo que se canta, isso é apenas uma canção, ao vivo é muito pior, então, assim, tudo isso bate diretamente em quem o Silvero é, e por isso esse projeto é tão emotivo, tão especial e tão necessário para mim.
Serviço: “Pequeno monstro”, com Silvero Pereira, nesta sexta (7), às 18h e 21h, no Teatro Sesc Napoleão Ewerton (Condomínio Fecomércio/ Sesc/ Senac, Edifício Francisco Guimarães e Souza, Jardim Renascença). Ingressos entre 20 e 40 reais, na plataforma Sympla. Classificação indicativa: 16 anos.
