O episódio mais conhecido da vida de José de Ribamar Elvas Ribeiro (6/9/1931-27/3/2025) é o de quando ele livrou seus colegas de Rádio Difusora da cadeia: após chegar atrasado ao batente em uma manhã de outubro de 1971, com São Luís sendo invadida por marcianos, o sonoplasta Parafuso tratou de incluir, cortando e colando a fita com a gravação, de tempos em tempos, uma vinheta com a informação “ficção científica baseada em Orson Welles [1915-1985]” – antes que o Exército e a Polícia Federal fechassem a emissora.
Para celebrar os 16 anos da rádio, inventaram de fazer a versão maranhense de A guerra dos mundos (1898), o clássico de H. G. Wells (1866-1946), adaptado para uma emissora americana pelo diretor de Cidadão Kane (para Parafuso o melhor filme do mundo em todos os tempos). Algum cochilo da censura e ditadura militar então vigentes no Brasil permitiu o programa ir ao ar. Pânico geral: muito antes de inventarem telefones celulares ou a internet, a população não sabia tratar-se de ficção e tomou como realidade.
Este episódio foi contado em detalhes no livro Outubro de 71: memórias fantásticas da guerra dos mundos (Edufma/Fapema, 2011), organizado pelo professor doutor Francisco Gonçalves da Conceição, do departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Desenhista e boêmio desde jovem, Parafuso começou no rádio por acaso, tendo atuado em emissoras como a Rádio Timbira (onde começou), Difusora e Ribamar. Em 2014, o próprio Parafuso contaria esta e outras muitas histórias em Memórias de um Parafuso (Edição do Autor, 2014). Inclusive a de seu apelido, como me contou certa vez, nalgum dos diversos encontros que tivemos no Bar do Léo, de que ambos éramos habitués: “eu era irrequieto e um dia na escola o professor chegou e me viu sobre a carteira, sapateando. Ele botou o apelido: parafuso. Dizem que quando a gente se zanga é que o apelido pega. Eu nunca me zanguei e pegou, embora carrapeta fosse mais apropriado. Parafuso você bota ele ali, ali ele fica. Carrapeta, não…”.
José de Ribamar Elvas Ribeiro, o Parafuso, faleceu ontem (27), em São Luís, aos 93 anos. A causa da morte não foi divulgada. O velório está sendo realizado na Central de Velórios Pax União (Rua Oswaldo Cruz, 1241, Centro). Ainda não há informações sobre o sepultamento.