A gestão da Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, na Avenida Paulista, transferiu para um depósito cerca de 21 mil itens do acervo do poeta que lhe dá nome, o ensaísta, tradutor, crítico e fundador do movimento da poesia concreta nos anos 1950, Haroldo Eurico Browne de Campos (1929-2003). A saída do acervo da “Bibliocasa”, apelido dado pelo próprio autor a sua biblioteca, vem sendo criticada: a coleção foi doada para a Casa das Rosas há 20 anos, e a importância da coleção acabou definindo a própria vocação do local, um dos raros dedicados à poesia e à literatura pela gestão pública paulista.
“Para garantir condições adequadas para a preservação da coleção de Haroldo de Campos, o acervo foi transferido para uma reserva técnica, que conta com o ambiente apropriado para preservar os itens. Assim como era feito quando o acervo estava na Casa das Rosas, a visitação e consulta aos materiais pode ser feita mediante agendamento”, informou nota da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, cuja secretária é Marília Marton.
O FAROFAFÁ apurou que a direção da Casa das Rosas enviou uma mensagem aos conselheiros da organização que cuida do acervo, informando que removia o material “devido às condições de umidade e de traças no subsolo da Casa das Rosas”, e que a transferência foi feita com a autorização da Secretaria da Cultura. A nota também informa o destino da Biblioteca Haroldo de Campos: o acervo foi parar na Clé Reserva Contemporânea, em Barueri, que é descrita como especializada em conservação de acervos e obras de arte. Segundo a secretaria, a transferência do acervo foi finalizada no dia 27 de janeiro “e agora será devidamente organizada no novo espaço”, o que demonstra que não há planos de repor a coleção na Avenida Paulista. As obras, segundo o governo, estarão disponíveis para consulta no final de março/2025, por agendamento (através do email contato@casadasrosas.org.br).
Após a morte de Haroldo de Campos, aos 73 anos de idade, todo seu acervo pessoal foi doado à Secretaria da Cultura do Estado. Foi designada uma nova função a ser exercida pela Casa das Rosas, que é um bem tombado: o local passou a disseminar o acervo e abrigar o debate literário em torno das ideias de vanguarda literária. A partir desta decisão, ficou criado o Centro Cultural Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura. A remoção das obras, livros, cartas e periódicos põe em questão a própria existência da instituição. Além do acervo de Haroldo, repleto de raridades (livros, discos, objetos pessoais), há correspondências trocadas entre Haroldo e o casal Max Bense e Elisabeth Walther-Bense, e a coleção de Luiz Carlos Vinholes, grande divulgador da poesia concreta no Japão e em outras partes do mundo, importante conjunto de documentos.
Diversos autores têm manifestado revolta com a decisão nas redes sociais. Para muitos, a argumentação de risco à coleção é incompreensível, já que há anos a Casa das Rosas iniciou obras de revitalização em sua sede – e há que se considerar ainda que é um bem tombado, não poderia ter chegado a esse presumível estado de deterioração.