Morreu em Nova York, aos 95 anos, o magnífico cartunista Jules Feiffer, um dos maiores de todos os tempos. O artista ajudou a fixar, nos anos 1950, as regras do movimento que ficou conhecido como New York Style, representado por um humor fino, um traço minimalista, um jeito irônico (mas ao mesmo tempo terno) de ver o lado ridículo do ser humano e pela admissão do homem comum como protagonista das histórias. Ele começou fazendo cartuns aos 16 anos como assistente de outro gênio, Will Eisner, mas seguiu logo carreira solo quando o mestre o chamou e disse: “Faça seu caminho sozinho, você é muito bom para ser assistente”. Do cartum, pulou para o roteiro de cinema e o teatro e também para a ilustração de livros infantis. Suas obras lhe renderam um Oscar e um Pulitzer.
Feiffer era grande amigo do ensaísta brasileiro Álvaro de Moya, que o trouxe algumas vezes ao Brasil para palestras e encontros de admiradores de comics. Sardônico e politizado, Feiffer viu e protagonizou pelo menos umas cinco revoluções culturais no seu País. Também educador, lecionava humor na universidade Stony Brook Southampton e sempre pareceu não ter planos de se aposentar algum dia. Seu trabalho mais recente foi publicado em 2020.
Em um dos seus trabalhos mais premiados, O Homem no Teto (Cia das Letras, 1993), ele examinava as fundações da profissão de escritor. “Ele desvenda o mecanismo de motivações das pessoas – marcas registradas de toda a sua obra”, disse do álbum o colega Art Spiegelman.
Em 2004, quando lançou o álbum Na Beira da Estrada, conversei com ele por telefone para o jornal no qual trabalhava na época. Ele me disse: “Eu me formei fazendo tiras de jornal. Naquele espaço, não se pode ser muito extensivo, você tem que ser muito conciso, deve concentrar tudo em pouco espaço. Conforme evoluí, mantive essa capacidade de concisão”.
Com Mate Minha Mãe, publicado no Brasil pela Companhia das Letras, ele mostrou que seu apreço pela inovação era eterno. Revisitando o clássico formato de romance noir em quadrinhos, Feiffer desviou o foco do heroi masculino, tão prezado pela geração de Raymond Chandler e Dashiel Hammett, e o concentrou em mulheres e em um inesperado heroi transgênero.