Morre Skowa, multiartista da música brasileira

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O contrabaixista, percussionista, pianista, violonista, ator, cantor e compositor paulistano Marco Antonio Gonçalves dos Santos, mais conhecido como Skowa, que tinha sofrido uma parada cardiorrespiratória na semana passada e estava internado em um hospital de Botucatu (235 km de São Paulo), morreu nesta noite de quinta-feira, segundo informou seu amigo e parceiro, João Parahyba. Ele tinha 69 anos. 

Skowa foi um dos músicos mais importantes da geração surgida a partir dos anos 1980 no Brasil e estava, desde 2003, integrando o reformado Trio Mocotó, ícone do samba rock nacional, em suas turnês e gravações. Substituiu Fritz Escovão (Luiz Carlos de Souza Muniz), que deixou o Trio Mocotó em 2002 por problemas de saúde. É uma curiosa simetria de nomes: Escovão é um mestre da cuíca que a fez tocar com síncopes imemoriais; Skowa é um mestre da música com balanço & consequência.

Skowa tem uma folha corrida impressionante. Fez parte da fundação do primeiro Clube do Choro de São Paulo, depois fundou um grupo pioneiro, Choro Roxo, e adiante tocou com a Gang 90, Itamar Assumpção, Sossega Leão (com 14 músicos, entre eles Nando Reis, Paulo Miklos, André Jung, Guga Stroeter), com Jorge Benjor, integrou o Premeditando o Breque. Foi o fundador de Skowa e a Máfia, um fabuloso grupo performático dançante inspirado na música black, em Prince, James Brown, Michael Jackson e Jorge Benjor.

O apelido Skowa surgiu no ginásio, por conta do cabelo black power. Os outros meninos o chamavam jocosamente de escova, escovão, e ele abraçou o apelido, virando Skowa. A banda Skowa e a Máfia durou de 1987 a 1991. Ao lado de instrumentistas como Bukassa Kabengele, Tuba Abraão e Tonho Penhasco, fez história no curto período em que reinou. Reunia mais de 3 mil pessoas em casas de shows em São Paulo na época, assinou com a Odeon, fez o disco La Famiglia (1988). Dois anos depois, saiu Eppur si Muove – Contraste e Movimento. Algumas de suas canções podem ser encontradas no repertório de grupos de diversos quadrantes, como por exemplo Akira S. e As Garotas que Erraram. “Você dirige o automóvel, eu lhe dirijo argumentos”.

Politizado, consciente e opinioso, Skowa tem sido um poderoso ativista também, a seu modo. “Todo mundo tem que ter a mesma chance. Porque a mesma chance? Um tem mais e outro tem menos. Aí vamos pensar no Nietzsche e no Zaratustra. Quem é que é o Super-Homem? Super-Homem é aquele que nasceu numa família com todas as condições de desenvolver os talentos dele e a inteligência dele. E conseguiu atingir um status de ser bem sucedido. Ou um cara que, desde que nasceu, tudo era diverso. Como um amigo meu, que nasceu no Capão Redondo, filho de uma empregada doméstica. O cara foi, conseguiu bolsa na PUC para estudar Ciências Sociais. Conseguiu bolsa no Goethe para estudar alemão. Hoje é um cientista e mora na Alemanha. Esse cara, era tudo adverso para ele. Não teve formação de berço. Tudo ele buscou por ele. Para mim esse cara é Super-Homem. Não o outro. O outro simplesmente usou as ferramentas que teve à mão. É isso”.

Filho de pais migrantes pobres, Skowa nasceu em 13 de dezembro (mesmo dia de Luiz Gonzaga) de 1955, às sete e meia da manhã, no Hospital São Paulo, na Vila Mariana, filho do sergipano Manoel dos Santos e da paulista de Passa Quatro Aparecida Gonçalves dos Santos. Mas foi criado por uma mãe de adoção, uma madrinha, numa casa de classe média alta Jardim Europa. “Cidade Jardim era sítio. Iguatemi era uma ruinha pequeninha. Brincava de estilingue, pipa, futebol, carrinho de rolimã”, contou, em depoimento ao Museu da Pessoa. Sua mãe de criação (a mãe verdadeira também vivia ali), Maria José Satamini, tocava piano clássico. Algo que pouca gente sabe: naquela casa, Skowa foi irmão de criação de Dom Geraldo Majella Agnello, que foi cardeal e Arcebispo Primaz do Brasil e morreu em 2023. Ele e o irmão arcebispo, que veio a São Paulo de Juiz de Fora para se tornar padre, não se falavam.

“Na verdade, eu nasci na casa dela”, contou Skowa. “Mas aí com três anos meus pais saíram e me levaram junto. Só que eu chorei muito, porque eu estava acostumado a passar o dia com ela. E resolveram deixar com ela. E meus pais mudaram para São Vicente. E aí eu fiquei direto com ela a partir dos cinco anos. Só que durante a minha vida, várias fases, eu acabei voltando e ficando um pouco com meu pai e minha mãe. Nunca foi uma adoção. Na verdade, foi uma convivência geral”. Na infância, ouviu Beethoven em discos de Magda Tagliaferro, assistiu recitais de pianistas como Berenice Menegale e árias com o barítono e professor Eladio Pérez Gonzáles. O “irmão padre”, como contou, ouvia mais música popular italiana: Domenico Modugno, Gigliola Cinquetti, Sergio Endrigo. Tudo o influenciou.

“Daí, depois, eu comecei a pingar de escola em escola. Eu não me adaptei em quase nenhuma. São Luís, São Bento, Osvaldo Cruz, Frederico Ozanam. Fui expulso várias vezes de todas”. Nos anos 1970, ele descobriu Jimi Hendrix e passou a procurar um caminho na música. Em 1977, entrou para o Clube do Choro, por considerar uma música sofisticada e popular. Aprendeu a tocar pandeiro e percussão. “Foi quando começou a entrar o verbo no meio da história, aí passei a questionar as coisas, as artísticas, as sociais, a buscar a raiz da música”.

De 1978 a 1981, viveu uma experiência fora do Brasil. Viajava e tocava música. Com 48 anos, tornou-se pai pela primeira vez, de Bento. Era amado por diversas gerações da música brasileira, e foi incorporado ao Trio Mocotó quase que por uma contingência sanguínea, seu DNA era o mesmo. O Trio Mocotó foi formado em 1968 na Boate Jogral, onde os integrantes originais, Fritz Escovão, João Parahyba e Nereu Gargalo, trabalhavam então. O trio acompanhou Jorge Ben em diversas faixas do clássico álbum Jorge Ben (1969) incluindo Que Pena, Domingas, Take it Easy my Brother Charles e País Tropical, e também fez um disco com o jazzista norte-americano Dizzy Gillespie.

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