O instigante Edgar em “Universidade Favela”

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O multiartista Edgar - foto: Renato Pascoal/ direção de arte: Renan Alves/ divulgação
O multiartista Edgar - foto: Renato Pascoal/ direção de arte: Renan Alves/ divulgação

Após a bem-sucedida trilogia Ultra, formada pelos álbuns Ultrassom (2018) e Ultraleve (2021) e o EP Ultravioleta (2022), todos lançados pela Deck, o multiartista Edgar disponibiliza Universidade Favela, pela mesma gravadora, nesta sexta (17), nas plataformas de streaming – faça aqui o pré-save.

O título é autoexplicativo e sintetiza a ideia de formação social e cultural de quem cresce em uma favela: o exercício é pensar no que favelas podem oferecer de bom, para além dos estigmas propagados por meios de comunicação e do preconceito em geral associado a estes aglomerados urbanos.

Se a favela pode ser uma universidade para quem está disposto a aprender, Edgar é, ao mesmo tempo, aluno aplicado e professor, poliglota inclusive. Durante a pandemia Edgar voltou a morar na Favela Coqueiro e no contato com a família e os amigos, propôs uma revisita à adolescência, mas com o olhar de agora, de quem tem mais experiência e sabedoria.

O experimentalismo que marca a trajetória do artista é colocado em diálogo com ritmos pop(ulares) como trap, funk e reggaeton, em temas que vão da denúncia social à carga sexual, com igual intensidade. Exemplo interessante é “Descansa Militante”, de finas ironias e dedos nas feridas. “Sempre vai ter um político envolvido na orgia”, “comecei na militância e acabei na putaria”, “o que mantém uma sanguessuga viva é a sua assinatura no contrato” e “quem não gosta de política por quem gosta vai ser governado” são alguns dos versos da faixa de abertura.

Universidade Favela reúne produtores e participações especiais de diversos cantos do mundo: os paulistas Nakata e Kazvmba (em “Caralho Carinho”), o coletivo carioca Os Fita (em “Incapturável”), o ítalo-brasileiro Nelson D. (em “Original de Quebrada”, “Paso Firme”, “Origami” e “Camisa 10”), o francês Dang (em “Descansa Militante”, “Perigos Noturnos”, “Relatos Selvagens” e “Camisa 10”) e o inglês Jammz (em “Canção de Amor” e “Antes Que O Mundo Acabe”) se dividem na produção das 11 faixas.

O álbum traz também as participações especiais das cantoras paulista Bia Doxum (em “Caralho Carinho”), chilena Luta Cruz (em “Passo Firme” e franco-japonesa Maia Barouh (voz e flauta em “Origami”). “Bota fé no teu tambor/ bota fé no que tu faz/ bota fé que tu é foda/ Deus protege e ninguém toca”, empodera a si e a seus pares em “Incapturável”.

“Doe seu dinheiro antes que o mundo acabe/ faça alguém feliz antes que o mundo acabe”, sentencia em “Antes Que O Mundo Acabe”, faixa que encerra e sintetiza Universidade Favela, inclusive no cruzamento entre o social e o sexual, em tempos de acentuada sanha (auto)destrutiva do capitalismo, apesar dos exemplos dados por tragédias como a ora vivida pelo Rio Grande do Sul.

A arte de Edgar segue firme no propósito de tirar seu ouvinte da zona de conforto, convidando-o a reflexões por vezes incômodas. O entretenimento é um convite à reflexão, numa dança em que nem o cérebro consegue ficar parado.

"Universidade Favela" - capa/ reprodução
“Universidade Favela” – capa/ reprodução
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