A cantora Indiana Nomma nasceu em Honduras e deixou o país aos 10 meses de idade, para morar no México, Portugal Nicarágua e Alemanha, até fixar residência no Brasil. Aos quatro anos de idade assistiu a uma apresentação de Mercedes Sosa (1935-2009) nos ombros do pai. O tributo que realiza há 23 anos surgiu como uma homenagem à sua mãe, e ano passado gerou o álbum “Mercedes Sosa: A Voz dos Sem Voz”, em que ela canta 10 pepitas do repertório da argentina, acompanhada do violonista André Pinto Siqueira.
O repertório do álbum traz 10 composições de, pela ordem de aparição, Pablo Milanés (1943-2022), Atahualpa Yupanqui (1908-1992), Horácio Guarany (1925-2017), Ariel Ramírez (1921-2010), Felix Luna (1925-2009), Violeta Parra (1917-1967), Silvio Rodriguez, Maria Elena Walsh (1930-2011), Armando Tejada Gomez (1929-1992) e Julio Cesar Isella (1938-2021), incluindo músicas que fizeram muito sucesso no Brasil, casos de “Años” (sucesso de Fagner com a participação especial da própria Mercedes Sosa), “Los Hermanos” e “Gracias a La Vida” (sucessos de Elis Regina [1945-1982]) e “Volver a Los 17” (que Milton Nascimento interpretou também em dueto com Mercedes Sosa).
Indiana Nomma e André Pinto Siqueira se apresentam nesta sexta-feira (10), às 21h, no Convento das Mercês, com entrada franca, dentro da programação (veja completa aqui) do Culturarte Maranhão – produção de Tutuca Viana, o festival acontece de 10 a 12 de novembro. A apresentação do duo deve ir além do repertório do álbum, ampliando a homenagem a Mercedes Sosa.
Indiana Nomma falou com exclusividade ao FAROFAFÁ, sobre sua origem hondurenha, o correr mundo até se estabelecer no Brasil, a origem da homenagem a Mercedes Sosa e de sua grande expectativa, alimentada já há algum tempo, de conhecer o Maranhão.
SEIS PERGUNTAS PARA INDIANA NOMMA
ZEMA RIBEIRO: Quais as expectativas por este encontro com o público maranhense e o que o público pode esperar?
INDIANA NOMMA: Tem um lugar no mundo onde sempre quis pisar sem saber ao certo por que. Esse lugar é o Maranhão. Assistindo a documentários, e conhecendo pessoas de lá, sempre me interessava pelo tema mais do que outros lugares no Brasil. Sentia o povo acolhedor e de uma cultura diferente, além de ser extremamente artística. Nunca vi um artista maranhense ser mediano. Então, há alguns anos, em uma imersão esotérica, fiz o mapa astrocartográfico onde apontava que se eu fosse para o Maranhão, seria muito feliz em todos os aspectos. Então a curiosidade sempre ficou latente. Qual é a minha expectativa de pisar nessa terra maravilhosa? A maior possível, pois poder levar o tributo oficial a Mercedes Sosa para essa terra e saber que há pessoas interessadas nessa temática, me deixa completamente realizada.
ZR: No álbum dedicado ao repertório de Mercedes Sosa você é acompanhada pelo violonista André Pinto Siqueira. Essa tabela se repete no palco do Culturarte Maranhão?
IN: Sim. O André Pinto Siqueira é um dos grandes parceiros desse tributo. E por ele ter gravado o álbum comigo, reproduziremos não só o repertório do disco, mas também outras canções do legado de La Negra durante o show.
ZR: Você nasceu em Honduras, filha de pais brasileiros exilados pela ditadura militar. Quando se deu o retorno ao Brasil e que vínculos mantém com Honduras?
IN: Na verdade, praticamente só nasci em Honduras, pois aos 10 meses de idade, nos mudamos para viver dois anos no México, dois anos em Portugal, quatro anos na Nicarágua, quatro anos na Alemanha Oriental durante a guerra fria, até chegar ao Brasil em 1987, onde me estabeleci em Brasília por 23 anos e depois vivi mais 12 anos no Rio de Janeiro. Voltei para mais um ano e meio a Brasília e atualmente moro em São Paulo. Mas minha ligação com a América Central até hoje é muito forte, pois minhas raízes primárias surgiram lá.
ZR: Quando e como você começou a ter contato com a obra de Mercedes Sosa? E quando decidiu apresentar o tributo que virou álbum?
IN: Em 1979, três meses após a revolução sandinista na Nicarágua, meu pai era convidado para ser consultor das Nações Unidas naquele país. Em 1980 o governo sugere uma grande campanha de voluntariado para dar início à Cruzada Nacional de Alfabetização, através da qual, após ter um país dizimado pela guerra civil, todos aqueles que soubesse ler e escrever foram incentivados a ensinar seus conterrâneos a sair do analfabetismo. Meu irmão mais velho, à época com 13 anos, e minha mãe se candidataram a voluntários junto com um milhão e meio de nicaraguenses. Após um ano de cruzada, para todos os voluntários, Mercedes Sosa faz um grande show na Praça da Revolução Sandinista, ao qual eu assisto aos quatro anos de idade sobre os ombros do meu pai. Ver aquela mulher incrível cantando “Sólo Le Pido a Dios” [de León Gieco] foi inesquecível. Muitos anos se passam, e quando minha mãe estava morrendo de câncer, decidi presenteá-la com um show para que tivesse forças para seguir lutando. E já que ela que havia me apresentado ao cancioneiro da Mercedes, montei um show com as músicas mais icônicas de La Negra. Infelizmente, três dias antes da estreia minha mãe veio a falecer. Daí surgiu a minha promessa de fazer esse show ao menos duas vezes ao ano em homenagem a ela. E tenho cumprido isso há 23 anos. O álbum veio durante a pandemia, quando fomos convidados a fazer uma live, e aproveitamos a gravação do áudio para registro. Gostamos tanto do resultado, que em 2024 sairá o segundo volume, com outras canções imortais que Mercedes Sosa trouxe em sua voz.
ZR: O que significa para você a chancela da família de Mercedes Sosa para este trabalho?
IN: Em 2022 recebi a chancela oficial da família da Mercedes Sosa com um orgulho danado. Principalmente por ser a única com esse reconhecimento no mundo. Além do mais, agora, durante o mês de outubro, recebi na embaixada da Argentina no Brasil, diretamente das mãos da Ministra [da Cultura do Brasil] Margareth Menezes, o reconhecimento oficial do governo argentino através da condecoração da Marca País Argentina como “Amiga da Argentina”. Apenas 23 pessoas no mundo receberam essa honraria. A representante da Marca País é a pessoa humana de destaque no campo da cultura, ciência, esporte ou atividades que, a critério do Comitê Interministerial da Marca País, represente, divulgue e promova os valores da Marca País da Argentina. Nesse contexto, o reconhecimento como “Amigos(as) da Argentina” é concedido às personalidades estrangeiras que difundem a cultura e os valores argentinos no mundo. Imagine a minha alegria. É um presente! Mas me coloca ainda mais a responsabilidade de honrar meu compromisso.
ZR: O que pode nos adiantar de novos projetos? O que o fã clube de Indiana Nomma pode esperar para breve? 2024 é logo ali…
IN: Em 2024 vem álbum novo por aí. Sempre na intenção de manter o legado de Mercedes Sosa vivo. Também deve sair um documentário sobre o tributo. E fora isso todos os outros shows que continuarão sendo feitos, tanto na parte do jazz quanto na música latino-americana. Torçam por mim.
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Ouça “Mercedes Sosa: A Voz dos Sem Voz”:
Serviço: a cantora Indiana Nomma e o violonista André Pinto Siqueira apresentam show em homenagem a Mercedes Sosa no Culturarte Maranhão. Sexta (10), às 21h, no Convento das Mercês (Rua da Palma, Desterro), na programação do Culturarte Maranhão. Entrada gratuita.