Interrompido pela pandemia de Covid-19 em 2020 e 2021, adiado pelas condições políticas em 2022, está de volta (e com fôlego renovado) ao circuito de festivais de música do Brasil o ousado Paraíso do Rock, que realiza no próximo final de semana, 29 e 30 de setembro, sua 13ª edição. Realizado na pequena Paraíso do Norte, no Paraná (cidade de 13.245 pessoas a 523 km da capital, Curitiba, e a 98 km de Maringá), trata-se de um festival que tem a integração regional sul-americana como um objetivo. Este ano, o Paraíso do Rock terá bandas de toda a tríplice fronteira: Argentina (Bestia Bebé), Uruguai (Trotsky Vengarán), Paraguai (Deficiente). Do Brasil, o atrevimento também é grande: estão na programação os grupos Congadar (rock com congada de Sete Lagoas, MG), Maciel Salú (Maracatu, Cavalo Marinho e afrobeat de Pernambuco), Bike (psychedelic rock de SP) e os indies paranaenses Little B and Mojo Brothers (Maringá) e 43duo (Paranavaí).
Os argentinos do Bestia Bebé têm a reputação de promover as maiores rodas de pogo das plateias ao Sul do Rio Grande. Banda formada em 2012, com festejado domínio do punk rock, está prestes a lançar um novo disco, do qual liberaram uma faixa agorinha, agora mesmo: El Verano. Alguma leve parescência com One, do Metallica, fez com que alguns fãs brincassem chamando-a de “Bestiallica”.
O veterano grupo uruguaio Trotsky Vengarán, 32 anos de estrada, ícone do punk rock do seu País, politicamente afiado e de admirável artesanato lírico, ficou conhecido pela distorção nos shows, mas agora empunha também um som acústico – uma faceta imposta pelas limitações da pandemia, que obrigou os decanos do hard rock a repaginarem não apenas canções e arranjos, mas também sua própria forma de se apresentar ao vivo.
Já o grupo Deficiente, de Assunção, Paraguai, caçula dos convidados de fora, prega que a mudança dos sistemas políticos e sociais começa na mudança de cada um, e sua música é feita de reflexões sobre os vícios da sociedade. “Em nossas próprias vidas, às vezes fazemos coisas que se negam, como uma auto-sabotagem. Na sociedade acontece a mesma coisa: embora todos queiramos uma melhoria, às vezes nos sabotamos”, diz o cantor e guitarrista Sebastián Arze, líder do grupo.
De olho nos fluxos culturais do Cone Sul, o Paraíso do Rock tem feito esse “contrabando” de bandas sul-americanas de forma sistemática desde seu início. Algumas participações viraram lenda, como a da também uruguaia banda Buenos Muchachos, que dirigiu uma van por 3,4 mil km (ida e volta) desde Montevidéu até o Paraná para tocar apenas uma noite, ficando pouco mais de 24 horas na cidade, um show inacreditável. Outros grupos hermanos que estiveram no Paraíso do Rock: Molina y Los Cósmicos, Las Diferencias e El Zombie.
Entre os brasileiros, sempre aparece uma preocupação em fazer pontes entre cenas culturais diferentes. Já estiveram no grupo bandas como a pernambucana Eddie e a paraibana Seu Pereira, entre diversas outras. Este ano, o destaque é a presença de Maciel Salú. Rabequeiro, cantor, compositor, mestre de maracatu-rural e ativista das tradições populares, filho do lendário Mestre Salustiano (1945-2008), Maciel é um artista que leva adiante uma tradição secular do Nordeste brasileiro.
Com uma área de camping gratuita (basta agendar com a organização), com banheiros quentes e energia elétrica e a poucos passos dos palcos, o festival ressurge num momento de retomada do protagonismo diplomático do País, de realinhamento democrático, e sua realização em uma região de pouco acesso a essa informação musical é um sopro de energia. “Agora, queremos dar um caráter de integração sul-americana ao festival. Estamos com o patrocínio da Itaipu, que simboliza justamente essa possibilidade de integração, e queremos manter essa parceria”, diz Beto Vizzotto, criador e mantenedor do festival desde sua origem (atualmente, é também o prefeito da cidade).
Os ingressos, que custam menos do que um hambúrguer no The Town, podem ser adquiridos pelo Sympla:
https://www.sympla.com.br/evento/paraiso-do-rock-2023/2123020