Por que a coleção de arte de Emanoel Araujo vai a leilão

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Óleo sobre tela do renascentista Niccolò Frangipane, italiano que atuou entre 1563 e 1597, obra mais valorizada do acervo que vai a leilão, com estimativa de preço de 1 milhão de reais

A casa leiloeira Bolsa de Arte anunciou nesta terça-feira, 5, a realização de um leilão de 1.500 mil peças da coleção privada do museólogo, curador, escultor e pesquisador baiano Emanoel Araujo (1940-2022) entre os dias 25 e 28 de setembro próximos. Parte das peças a serem leiloadas estará exposta para eventuais interessados a partir desta quarta-feira, às 11 horas, em uma mostra na rua Barão de Capanema, 457, nos Jardins, em São Paulo. O leilão será na sede da Bolsa de Arte em São Paulo (rua Rio Preto, 63, Jardins).

Emanoel Araujo criou o famoso Museu Afro, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, em 2004, e dedicou integralmente ao museu sua energia criadora, tanto de colecionador quanto de curador, durante 18 anos. Expert em arte afro-brasileira, foi diretor do Museu de Arte da Bahia (1981-1983) e educador – lecionou artes gráficas e escultura no Arts College, na The City University of New York (em 1988). Por isso, causou certo espanto a notícia de que parte de sua coleção privada irá a leilão – o mais admissível seria que ela fosse incorporada ao acervo do museu que criou, pela pertinência.

A Bolsa de Arte informou a FAROFAFÁ, no entanto, que a venda dos 1.500 itens da coleção privada do artista, que estavam em seu apartamento em São Paulo, foi determinada pelo próprio artista e museológo. “A decisão da venda foi tomada pelo próprio Emanoel Araujo e declarada em testamento”, afirmou a assessoria da casa leiloeira. Segundo a Bolsa de Arte, a coleção inteira do artista reúne ao todo quase 5.000 obras, e o leiloeiro informou que “os 2.800 itens que estão em comodato no Museu Afro Brasil não estarão à venda”. Jones Bergamin, o leiloeiro, afirmou que, durante a catalogação do acervo, a Bolsa de Arte destinará ao Museu Afro documentos, cartas e manuscritos do artista que forem encontrados. “Ou seja, a produção intelectual de Emanoel, assim como a obra plástica de sua autoria, não serão comercializadas”, informou, no release do leilão.

O acervo que irá a leilão tem diversidade e consistência de colecionismo impressionantes, segundo a divulgação da Bolsa de Arte. A obra mais valorizada é “Alegoria da América” (1590), um óleo sobre tela de Niccolò Frangipane, renascentista italiano que atuou entre 1563 e 1597. A pintura está estimada em R$ 1 milhão. Há também peças de Rubem Valentim, Xavier das Conchas e Franz Krajcberg, uma poltrona Jangada assinada por Sérgio Rodrigues e “Naná Negra”, escultura da pintora, escultora e cineasta Niki de Saint Phalle (1930-2002), presenteada a Araujo quando da vinda da francesa para uma mostra na Pinacoteca do Estado, em 1997. A peça vai estar exposta em uma das escrivaninhas que pertenceram ao artista, acompanhada de uma carta escrita de próprio punho por Saint Phalle naquele ano.

Na mostra que será montada nesta quarta-feira será reproduzido o ambiente em que Araujo, morto aos 81 anos no ano passado, exibia sua coleção em seu apartamento. Haverá uma montagem do escritório, da cozinha e da sala de jantar do museólogo, com peças africanas e de origem Iorubá, móveis, louças e obras de artistas como Carlos Bastos, Xavier das Conchas, Carybé, Rubem Valentim, Francisco Brennand, João Câmara, Siron Franco e Franz Krajcberg, entre outros. O acervo conta ainda com anéis, esculturas e moedas antigas e imagens religiosas que têm relação com a história da escravidão no Brasil.

Após algumas semanas de exposição, em 25 de setembro, a casa leiloeira dará início ao leilão presencial durante quatro noites para receber os lances. Depois, a negociação segue por mais 30 dias no site www.bolsadearte.com. Diversas peças terão lance livre, sem um valor mínimo estipulado, o que possibilita a participação de um público mais amplo.

“Naná Negra”, escultura da francesa Niki de Saint Phalle, que esteve no Brasil em 1997

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