Talvez “A Noite do Dia 12” não agrade àqueles que gostam de uma história com começo, meio e fim, ou que esperam a solução de um mistério. A perspectiva do diretor Dominik Moll é outra.
Seu novo filme, vencedor de seis categorias do César, a maior premiação do cinema francês, tem roteiro (dele e Gilles Marchand) inspirado no livro de Pauline Guéna, e acompanha a rotina da polícia ao investigar um crime bárbaro: ao voltar para casa de madrugada, após encontrar as amigas, a jovem Clara (Lula Cotton Frapier) é queimada viva.
O filme começa com a animação da festa de despedida de um policial que se aposenta e logo se desdobra na busca do assassino de Clara, assumida por um jovem recém-chegado à corporação (Yohan, interpretado por Bastien Bouillon). A investigação passa a ser perturbadora para ele e os colegas.
Em meio a belas paisagens, emolduradas pela competente direção de fotografia de Patrick Ghiringhelli, a história dá ao espectador a oportunidade de refletir sobre feminicídios, misoginia e uma sociedade ainda tão hostil para as mulheres. Como diz Nanie (Pauline Serieys) a certa altura: “ela foi morta tão somente porque era uma garota”.
O desenrolar da trama, com sucessivos interrogatórios de suspeitos, aponta para o julgamento social tipicamente machista em torno de especulações sobre o que teria levado o assassino a praticar o crime e a escolha do método.
Moll estimula a inteligência do seu público, quando o coloca para perceber exatamente o que ele não mostra: assim como os homens, as mulheres são (ou já deveriam ser) livres para agir sem julgamentos ou pagar por seus atos com a própria vida.
Serviço: “A Noite do Dia 12” (Bélgica/França, drama/suspense/policial, 2022, 115 minutos), de Dominik Moll. Estreia hoje (12) nos cinemas brasileiros.
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