“O Dilema do Médico”, entre a vida e a morte

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Elenco da peça "O Dilema do Médico", de Bernard Shaw
Elenco da peça "O Dilema do Médico", de Bernard Shaw - Foto Ronaldo Gutierrez

Bernard Shaw, com O Dilema do Médico, provoca uma bem-vinda reflexão sobre o sentido da vida. E, para tanto, resolveu abordar a morte em uma de suas tantas encruzilhadas possíveis. Ele parte de uma situação-problema, o tal dilema, que consiste em um bem-sucedido médico obrigado a decidir entre salvar um colega de profissão, ético e mais humilde, ou um artista, genial mas arrogante. Se a situação parece de simples solução, o dramaturgo irlandês faz questão de acrescentar um elemento a mais nessa tragicomédia: a paixão arrebatadora que o doutor sente pela mulher do artista.

A peça se passa no início do século 20, onde o médico Colenso Ridgeon (Sergio Matropasqua), recém-condecorado com o título de “Sir”, uma honraria para poucos na Inglaterra. Sir Ridgeon havia descoberto a cura da tuberculose, e sua clínica logo vira um périplo de pacientes e uma confraria de colegas médicos, todos homens que se vangloriam de serem capazes de decidir o destino da Humanidade. Ou, para ser mais exatos, são carniceiros, charlatães ou egocêntricos. É nessa hora que ele descobre que o doutor Blenkinsop (Luti Angelleli) está enfermo. E é procurado por Jennifer (Bruna Guerin), que apela para que o prestigiado médico salve a vida de seu marido, o artista plástico Louis Dubedat (Iuri Saraiva).

O Dilema do Médico, em cartaz no Auditório do Masp até 26 de março, é dirigido por Clara Carvalho, em sua primeira direção teatral. Atriz carioca, mas radicada em São Paulo há décadas, ela é um dos rostos mais conhecidos do Grupo Tapa, conhecido por levar aos palcos espetáculos de autores como Shakespeare, Tchekhov, Tennessee Williams, Strindberg, Oscar Wilde, Luigi Pirandello e Nelson Rodrigues.

A partir do texto de Bernard Shaw, a diretora Clara Carvalho consegue sutilmente desconcertar a visão de um mundo dominado por homens. Reunidos, eles se revelam entre fracos, insensíveis e imorais. Já a protagonista mulher é uma pessoa decidida, que desnorteia a imagem que os médicos querem apresentar sobre si mesmos perante a sociedade. Esse outro dilema, de médicos encantados apenas com a beleza de uma jovem e, por isso, passam a bajular o marido não por sua arte, traz mais ebulição para o enredo da peça.

O médico Ridgeon, que usa do dilema de salvar uma vida para se aproximar de sua súbita paixão, e o arrogante Dudebat, que não enxerga a morte, já que considera que sua arte o manterá vivo para sempre, formam uma dupla e tanto de paspalhos. No final de O Dilema do Médico, Bernard Shaw traz o seguinte recado: a arte sempre vence, por ela ser imortal. Já a medicina tem de lidar com a vida, porém jamais poderá derrotar a morte. Mas é claro que o desfecho é bem mais irônico.

O Dilema do Médico. De Bernard Shaw. Com a Círculo de Atores. No Auditório do Masp, às sextas-feiras e sábados (20 horas) e domingos (19). Ingressos a 60 reais.
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