O ex-presidente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN) bolsonarista, Luiz Carlos Ramiro Júnior, fechou quatro convênios de coedição com a organização católica ultraconservadora Associação Centro Dom Bosco de Fé e Cultura para editar obras e coleções de natureza religiosa. Dois desses convênios foram firmados logo após a posse do novo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Um dos contratos, destinado à publicação da série hagiográfica medieval sobre santos católicos denominada Legenda Áurea, tem a duração estabelecida de dois anos. Os outros livros são: História do Brasil, História de Portugal e História da Europa.
A Associação Centro Dom Bosco de Fé e Cultura, ligada ao guru bolsonarista Olavo de Carvalho (morto em janeiro de 2022) e ao ex-presidente Jair Bolsonaro, ficou célebre por algumas intervenções típicas de grupos ideológicos extremistas. Foi responsável por processar o grupo de humoristas Porta dos Fundos, em 2019, e pedir indenização por danos morais devido ao esquete em vídeo denominado A primeira tentação de Cristo (a produtora Porta dos Fundos e a Netflix venceram o processo no STF). Insatisfeitos, os conservadores organizaram grupos de orações na frente do STF durante 40 dias para tentar mudar a decisão do ministro Dias Toffoli que lhes foi desfavorável. Os religiosos rezavam para que Deus fizesse os ministros “enxergar o mal permitido pelos atos das blasfêmias contra Nosso Senhor Jesus Cristo”. O grupo também postou vídeos institucionais com participação de Bolsonaro e do foragido Allan do Santos, propagador de fake news bolsonarista. Seus seguidores também rezaram um terço com Bolsonaro durante controversa intervenção do ex-presidente em visita a Aparecida do Norte. Outra atuação da associação foi em um processo judicial, durante o auge da pandemia de Covid-19, para que a Justiça permitisse cultos, missas e demais atividades religiosas no período de isolamento social (foi igualmente derrotada). Na sua cruzada antiaborto, a associação tentou impedir que o grupo Católicas pelo Direito de Decidir utilizasse o nome “católicas” em seu registro de organização não governamental – o STF também decidiu que o uso era legítimo.
A presença da extrema direita católica em coleções literárias que poderiam vir a integrar o acervo da prestigiosa Biblioteca Nacional acende um alerta para o novo presidente da entidade, Marco Lucchesi, que deverá rever a atuação do monarquista e conservador católico Ramiro Júnior. Este chegou a premiar bolsonaristas com a Ordem do Mérito do Livro, incluindo entre eles alguns que tem tanta intimidade com o tema do livro quanto Rafael Nadal com o rúgbi (casos de Hélio Negão e Daniel Silveira).