O governo federal exonerou essa manhã Letícia Dornelles do cargo de presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa. A demissão, a 15 dias do final do governo, é uma retaliação do bolsonarismo – Letícia Dornelles teria entregado à equipe de transição do governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva um dossiê contendo informações sobre desmandos levados a cabo por Mario Frias, ex-secretário Especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro.
Frias chegou a tentar demitir Letícia Dornelles, mas teve que recuar. Desde então, a roteirista de TV e olavista ferrenha passou a reunir evidências da atuação antirrepublicana e despótica do chefe para dar o troco. Frias, segundo denúncias da imprensa, chegava a despachar armado e obrigou todas as instituições vinculadas da Cultura a submeter a si qualquer memorando interno. Letícia (sem qualificação acadêmica e cuja maior façanha intelectual na carreira foi a publicação de um livro chamado Como Enlouquecer em Dez Lições) deixa a Fundação Casa de Rui Barbosa em situação periclitante. Quando entrou, exonerou toda a equipe de pesquisadores da fundação – intelectuais do porte do cientista político Charles Gomes, da ensaísta Flora Sussekind, da jornalista Jöelle Rouchou, do sociólogo e escritor José Almino de Alencar e Antonio Herculano Lopes, diretor do centro de pesquisa da fundação.
Em 2020, 150 brasilianistas de universidades como Harvard, Princeton, Columbia, New York University, Georgetown, Stanford e Berkeley divulgaram um documento reivindicando a suspensão das medidas que Letícia Dornelles adotou na Casa de Rui Barbosa. Não adiantou nada: o desmonte continuou em ritmo acelerado. A sua gestão foi objeto de mobilizações de todo tipo, desde protestos na porta da fundação até abaixo-assinado com mais de 2 mil assinaturas de jornalistas, escritores, músicos e artistas diversos, como Caetano Veloso, Silvia Buarque, Lucia Murat, Paulo Betti, Francis Hime, Sérgio Sant’Anna, Jorge Salomão, entre outros.