Caetano Veloso e Owerá, no musical
Caetano Veloso e Owerá, no musical "2022" - Foto: Reprodução

“É, foi ruim à beça/ Mas pensei depressa/ Numa solução para a depressão/ Fui ao violão”. É na primeira frase de Sorriso Aberto, cantada na voz de Leandro Lehart, que o musical 2022 entrega seu objetivo. Gravada em meio à pandemia de Covid-19, à crise econômica, ambiental e política no Brasil, a obra dá ao brasileiro aquilo que ele precisa: o acalento de que o país ainda guarda muita coisa boa e fértil através da genialidade de sua música.

Ainda em uma ressaca do período de explosão das lives, é difícil pensar em quem escolhe sentar no sofá de casa para assistir a um show de quase 2 horas. Mas 2022 entrega muito mais que isso. 

O musical 2022 estreou na HBO Max em 11 de março, marcando o centenário da Semana de Arte Moderna. E, assim como o evento cultural de 1922, buscou evidenciar a identidade cultural do Brasil. São dois atos que totalizam 22 músicas interpretadas por 48 artistas, grandes nomes da música brasileira, organizados em encontros que poderiam parecer improváveis, mas acabam por fazer total sentido. Para fechar, um terceiro episódio mostra os bastidores de gravação.

Em um roteiro que tem como fio condutor a conexão música a música, sem apresentações de entremeio, canções que marcaram o Brasil com suas letras e melodias narram a realidade do país em uma sequência pensada pelos produtores. O manguebeat do Nação Zumbi encontra o rock de Arnaldo Antunes e dos Paralamas do Sucesso, o molejo de Péricles combina com a suavidade de Maria Gadú, o olhar forte e a canção guarani de Owerá preenchem o palco junto de Caetano Veloso. Um dos destaques é a emocionante apresentação de A mulher do fim do mundo por Elza Soares, uma das últimas gravações antes de sua morte.

Como uma obra audiovisual completa, além dos números musicais também apresenta um cenário preenchido por obras da nova geração de artistas plásticos brasileiros, como Elian Almeida, Denilson Baniwa, Vânia Mignone, entre outros.

A produção foi idealizada por Monique Gardenberg, cineasta, diretora teatral e produtora cultural que já fez parte de outras grandes obras brasileiras, como o longa Ó, pai Ó e o videoclipe da famosa Não Enche, de Caetano Veloso. Produzida pela Dueto, 2022 ainda teve em sua realização nomes como Hermano Vianna e Lourenço Rebetez, com direção de Felipe Hirsch, direção de arte de Daniela Thomas, direção de fotografia de Fernando Young e direção musical de Kassin e Liminha em conjunto com o maestro Jaques Morelenbaum. 

A obra ainda conta com a participação de Chico Buarque, Gal Gosta, Tim Bernardes, João Bosco, Ludmilla, Criolo, Emicida, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, Baiana System, BNegão, Gilberto Gil, Duda Beat, Leci Brandão e outros. Entre aqueles que já estão consagrados e a juventude que inova e traz energia à arte, 2022 reforça o ponto de vista que Emicida traz nas filmagens de bastidores: a cultura brasileira é um dos poucos bens que não foi colonizado. 

* Resenha produzida para o Centro de Estudos Latino Americanos sobre Cultura e Comunicação da Universidade de São Paulo (Celacc-USP)
2022. Musical de Monique Gardenberg, em dois episódios. Na HBO Max.
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