Coda - NO Ritmo do Coração - Foto Divulgação
Coda - NO Ritmo do Coração - Foto: Divulgação

Uma das queixas frequentes dos adolescentes é não serem ouvidos pelos pais e irmãos mais velhos. Vencedor do Oscar de Melhor Filme de 2022 (*), Coda, filme da diretora Sian Heder, toca nessa ferida, mas de uma forma muito mais particular e sensível do que se possa imaginar. Ruby, a protagonista interpretada por Emilia Jones, tem uma voz verdadeiramente adorável e parece ter o talento necessário para uma carreira musical. Mas nem seu pai Frank (Troy Kotsur), sua mãe Jackie (Marlee Matlin) ou seu irmão Leo (Daniel Durant) conseguem ouvi-la. Isso porque ela é uma “Child of Deaf Adults” (criança ouvinte de adultos surdos), ou Coda, em inglês.

Ruby é uma filha responsável, daquelas capazes de ir ao mar pescar com o pai e o irmão antes de ir para a escola cheirando a peixe. Ela é uma intérprete da família Rossi, traduzindo a língua de sinais americana, bastante gestual. Não é difícil imaginar a dependência que eles têm da jovem que sonha em cantar. Por isso, nos primeiros encontros com um futuro e inspirador professor de música, Bernardo “Mister V” Villalobos (Eugenio Derbez), ela resolve esconder seus planos para a família. O receio era real, mas o espectador deparará com pais atípicos, liberais na essência da palavra, debochados na forma como enxergam o mundo e deliciosamente engraçados entre eles.

O embate não será fácil, mas também não carregará o tom da película. Ao contrário, Coda conta uma história na qual os conflitos acabam por ser resolvidos de uma forma ou de outra. Ruby apaixona-se por Miles (Ferdia Walsh-Peelo), um jovem da escola que também sonha em cantar, e com quem fará duetos impossíveis de serem ouvidos por seus pais e irmão. O filme, que aqui ganhou o intertítulo No Ritmo do Coração, é permeado por canções de intérpretes de naipe como Marvin Gaye e Tammi Terrell (“You’re All I Need to Get By”), Etta James (“Something’s Gotta Hold on Me”) ou Joni Mitchell (“Both Sides Now”).

Sucesso no Festival de Sundance, em 2020, Coda, em cartaz na Apple TV+, é o remake norte-americano da comédia dramática francesa La Familie Bélier (2014), de Victoria Bedos, que ajudou na reformulação do novo roteiro. Ruby está crescendo e precisa, como toda adolescente, se libertar da família, ganhar sua própria identidade, iniciar sua vida adulta. Mas muitos jovens obrigados a precocemente viverem como se adultos fossem se identificarão com a história dessa protagonista que sente o peso de “largar” a família que sempre dependeu dela para sobreviver. Numa tocante cena, Frank, um personagem realmente engraçado, pede que a filha cante para ele, debaixo de um céu estrelado. Só a dois, sentindo as vibrações das cordas vocais dela, o pai consegue compreender a mensagem da música que ela executou para uma plateia ouvinte.

Piegas, comovente, feito para emocionar, não importa muito. Talvez seja o caso de deixar de lado os preconceitos e critérios extremamente ferinos da crítica para se deixar levar por essa história. Para amolecer ainda mais o coração de quem ainda não se convenceu, vale dizer que os atores que vivem a família Rossi, Troy Kotsur, Marlee Matlin e Daniel Durant, são surdos na vida real. Marlee já conquistou a estatueta de Melhor Atriz em 1986 por seu papel no filme Os Filhos do Silêncio. O prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográfica de Hollywood pode dar um empurrão merecido a Coda.

(*) Texto atualizado em 28 de março.

Coda – No Ritmo do Coração. De Sian Heder. Na Apple TV+. Estados Unidos, 2021, 111 minutos.
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