Cena de
Cena de "Fortaleza Hote" - foto Jorge Silvestre

Em registro introspectivo, o filme Fortaleza Hotel acompanha o cruzamento improvável das vidas de duas mulheres de nacionalidades diferentes num hotel da capital do Ceará. Uma delas, Pilar (a pernambucana Clébia Sousa, de Bacurau), é camareira, mora na periferia de Fortaleza e estuda inglês para realizar o sonho de ir embora para a Irlanda. A outra, Shin (vivida pela atriz coreana Lee Young-Lan), é sul-coreana e planejava vir morar no Brasil, mas veio buscar o corpo do marido, que se suicidou no hotel.

Depois de investigar a solidão de um homem homossexual na terceira idade (interpretado por Marco Nanini) em Greta (2019), uma adaptação sem falsos gracejos para a comédia teatral de tempos de chumbo e homofobia Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá (1974), o diretor cearense Armando Praça volta-se ao imaginário feminino e às semelhanças que desafiam duas mulheres de gerações, classes sociais e hemisférios diferentes. Pilar precisa de dinheiro para libertar a filha que teve aos 13 anos da mira do crime. Shin precisa de dinheiro para trasladar o corpo do marido, que deixou as contas familiares bloqueadas por fraude financeira. Essa coincidência trará consequências para ambas.

Mesmo comunicando-se em inglês, uma língua que não é natural a nenhuma delas, se entendem uma à outra sem o fatídico “lost in translation”. A certa altura, Shin diz que não ter certeza se a Coreia ainda lhe faz sentido, ao que Pilar responde prontamente: “O Brasil não faz sentido para mim“. A desgraça social bolsonarista passa inteira ao fundo do filme, sem que Praça precise tocar no assunto nenhuma vez. Em fuga de seus lugares de origem e de si mesmas, as duas encontram um território comum na periferia brasileira, tomando vinho barato e dançando forró, for all. O desamparo e a solidão dão a volta ao mundo inteiro sem sofrer mutações.

Lee Young-Lan e Clébia Sousa em "Fortaleza Hotel, de Armando Praça
Lee Young-Lan e Clébia Sousa em “Fortaleza Hotel, de Armando Praça

Fortaleza HotelDe Armando Praça. 77 min.

 

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