“A Tragédia de Macbeth” é o azarão do Oscar

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Cena de "A Tragédia de MacBeth", em streaming na Apple TV+
Cena de "A Tragédia de MacBeth", em streaming na Apple TV+

A votação para o Oscar começa na próxima quinta-feira, 27, encerrando-se cinco dias depois, e os indicados deverão ser anunciados em 8 de fevereiro. Um filme lançado dia 14 último, potencialmente de baixa bilheteria (faturou até a data desta publicação 362 mil dólares), corre entre os azarões, porém cercado de referências estelares. O longa A Tragédia de Macbeth é baseado na obra clássica de William Shakespeare, adaptado e dirigido por Joel Coen (que com o também cineasta Ethan são conhecidos internacionalmente como os Irmãos Coen), e protagonizado pelos já premiados pelo Oscar Denzel Washington (Macbeth) e Frances McDormand (Lady Macbeth).

O longa foi produzido pela A24 e entrou em cartaz na Apple TV+. Filmado em um estúdio, A Tragédia de Macbeth impressiona por sua estética minimalista. É como se as cenas acontecessem em um palco de teatro, onde o cenário tem a função de apenas permitir que o drama aconteça nesse espaço. O filme de Joel Coen (vencedor do Oscar em Onde os Fracos Não Têm Vez, de 2007, e Fargo, de 1996) não busca as pirotecnias e a suntuosidade bem ao gosto de uma indústria como a de Hollywood. As formas geométricas dos cômodos, do castelo, da floresta e outros locais, favorecidas pelo jogos de luzes em preto e branco, sobressaem, valorizando a atuação dos personagens.

A história gira em torno de um lorde escocês que, certo dia, encontra-se com um trio de bruxas e se convence por elas de que será o próximo rei da Escócia. Para tanto, precisará tomar o poder do rei Duncan (Brendan Gleeson), mas contará com o apoio de sua ambiciosa esposa, Lady Macbeth. Como um predestinado, Macbeth não medirá esforços para se livrar dos rivais e inimigos, mesmo que só ele e Lady Macbeth os considerem assim. Coen se vale de dois protagonistas mais velhos nos papéis principais, o que torna a luta pelo poder uma espécie de última chance de glória para eles.

Outra opção corajosa do diretor foi a de manter o inglês original da obra de Shakespeare, um inglês arcaico, de um texto escrito entre 1603 e 1607. O medievalismo dos personagens e histórias foi, de certa forma, arejado dessa versão, tornando-a mais atual. Em vez de se preocupar com a caracterização da época, o espectador é transportado para um universo permeado por sentimentos como ganância, traição e culpa. Assim que seu objetivo maior é conquistado, Macbeth vive um reinado atormentado pelo peso de sua consciência. Jamais consegue usufruir aquilo que tanto almejou.

O ponto-chave da grandiosidade de A Tragédia de Macbeth é manter explícita uma das questões centrais da obra de Shakespeare. Apesar da profecia das três bruxas, Macbeth decide tomar as rédeas de seu destino para se tornar o novo soberano da Escócia, iniciando sua própria derrocada. O que teria acontecido se o protagonista nada tivesse feito? É possível escolhermos o nosso futuro ou ele já é determinado?

A Tragédia de Macbeth pode vir a disputar como melhor filme, assim como há chances de Joel Coen, Frances McDormand e Denzel Washington serem indicados em suas categorias individuais. Para Washington, que no início de sua carreira profissional se apresentou como Coriolano, outra peça de Shakespeare, no circuito off-Broadway, de Nova York, será a chance de repetir uma disputa de 20 anos atrás. Em 2001, ele venceu o Oscar de Melhor Ator por sua atuação em Dia de Treinamento ante Will Smith, que disputava por Ali, em que viveu o papel do lutador Muhammad Ali. Só que desta vez Will Smith é considerado favorito à estatueta por King Ricardo: Criando Campeãs.

A Tragédia de MacBeth. De William Shakespeare. Dirigido por Joel Coen. Na Apple TV+.

 

 

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