Segundo o deputado estadual Carlos Gianazzi (PSOL-SP), que participou de diversas outras manifestações anteriores na frente do prédio da Cinemateca Brasileira (CB), na Vila Mariana, em São Paulo, a tarde deste sábado, 7 de agosto, abrigou aquele que é “talvez o maior ato de todos os tempos em defesa da Cinemateca”. Cerca de 500 pessoas, segundo estimativa informal da Guarda Civil Metropolitana (GCM), compareceram ao protesto convocado para debater e repudiar a situação de atual abandono que vive o maior acervo audiovisual do País e um dos maiores da América do Sul. Além de São Paulo, outros seis Estados tiveram atos pela Cinemateca.
“É um leque de apoio como nunca vi”, disse Carlos Augusto Calil, presidente da Sociedade Amigos da Cinemateca (SAC), ao discursar para a multidão. Eram, em sua maioria, cineastas, técnicos, intelectuais e ativistas da cultura, assim como moradores do bairro da Vila Mariana, famílias com crianças e cães. Muitos cartazes contundentes responsabilizavam os gestores federais da cultura pelos dissabores que a CB vive atualmente. “Os moradores têm orgulho de serem vizinhos da Cinemateca”, disse Calil.
Daniel Santiago, diretor da Associação Paulista de Cineastas, lamentou a postura do governo, que há mais de um ano promete uma solução emergencial para a Cinemateca e posterga indefinidamente essa decisão. “Infelizmente não voltamos para festejar, mas para manifestar nossa indignação”, afirmou.
“Não tem mais conversa com esse governo, eles não são confiáveis”, disse a representante de uma das associações de moradores da Vila Mariana, que move uma ação civil pública contra a Secretaria Especial de Cultura. Havia muitos cartazes pedindo a prisão imediata do secretário Mario Frias e também a saída de seu secretário adjunto, Hélio Ferraz, assim como um uníssono quando o grito era “Fora Bolsonaro”, identificado como um dos maiores inimigos históricos da cultura.
“Nós estamos dialogando com delinquentes, com bandidos. Eles foram contratados para destruir a Cinemateca”, discursou o deputado Carlos Gianazzi, sob aplausos; Gianazzi entrou com uma denúncia criminal na Procuradoria Geral da República contra o secretário de Cultura e seu adjunto, Hélio Ferraz.
Carlos Augusto Calil afirmou que os R$ 10 milhões definidos no edital de chamamento da OS para a Cinemateca representam apenas metade de suas necessidades atuais. A denúncia do FAROFAFÁ, de que não existe nenhum técnico cuidando do acervo (nem do incendiado, nem do principal, na Vila Mariana) foi corroborada pelos especialistas presentes. “Apesar de toda a mobilização, a Cinemateca continua abandonada. Não há um técnico cuidando”, afirmou Gianazzi, que participou de uma vistoria na instituição. Ele disse que há um grande engajamento popular e a imprensa tem se mostrado sensível à situação, mas citou a canção “Haiti”, de Caetano Veloso e Gilberto Gil, como um retrato do paradoxo que se vive atualmente: “Nem a lente do Fantástico/Nem o disco de Paul Simon”, nada disso faz com que o governo abandone sua determinação de deixar a Cinemateca ser arruinada.