O udigrudi estonteante de Lu Horta

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A cantora, compositora e percussionista corporal Lu Horta. Foto: divulgação
A cantora, compositora e percussionista corporal Lu Horta. Foto: divulgação

Celebrando os 20 anos de sua carreira solo a Barbatuque Lu Horta está realizando uma série de seis lives comemorativas, com convidados especiais. Acompanhada do baterista e percussionista Marcelo Effori, seu companheiro de vida e música, as apresentações estão sendo transmitidas a partir de um estúdio em São Paulo, respeitando as normas de segurança sanitária decorrentes da pandemia de covid-19.

Os shows online da cantora, compositora e percussionista corporal, intitulados “No meu lugar”, são transmitidos no canal oficial da artista no youtube, sempre às 18h30. Cada convidado participa de dois: Meno Del Picchia (voz, baixo e guitarra) foi o convidado das duas primeiras (27 de fevereiro e 6 de março); Maurício Pereira (voz e saxofone) conversou e cantou dia 13 e volta amanhã (20); e Helô Ribeiro (voz e percussão corporal) é a convidada das duas últimas edições (27 de março e 10 de abril).

As apresentações ao vivo têm clima intimista e descontraído, entre música e bate-papo. O “udigrudi estonteante” da manchete foi pinçado de uma fala de Maurício Pereira na live mais recente: tanto ela quanto ele são artistas underground, cujos enormes talentos mereciam ser mais conhecidos por mais brasileiros.

Lu Horta conversou com exclusividade com Farofafá.

ZEMA RIBEIRO – Lu, a prorrogação indefinida das restrições impostas pela pandemia de covid-19 acabaram empurrando as celebrações de teus 20 anos de carreira solo para o formato online, as lives que acabaram se tornando parte da realidade dos brasileiros para atravessar esse momento difícil. Como tem sido a experiência?
LU HORTA – Num primeiro momento foi um baque adaptar a rotina para o formato online. Exaustivo e muito confuso também. Mas tenho a sorte de ter um estúdio profissional em casa, que se tornou uma estrutura incrível para a transmissão das lives. Mas isso só foi possível porque o Marcelo Effori pilota toda a parafernália tecnológica. A sorte, na verdade, é essa minha parceria com ele. As lives não estariam acontecendo sem o apoio dele. A experiência está sendo muito rica, leve, divertida e os resultados estão muito acima da nossa expectativa, só tenho a agradecer.

Como foi, para você, lidar com a morte prematura de Fernando Barba, fundador do Barbatuques e teu companheiro de grupo?
A partida do Barba no início de fevereiro foi muito dramática, muito intensa e dolorida pra todos nós, amigos, parceiros, familiares… nem sei direito como descrever porque ainda estou digerindo essa perda. O mais importante tem sido focar na beleza da obra do Barbatuques, entendendo a grandeza dessa nossa parceria com o Fernando Barba, o legado que construímos junto com ele e continuar espalhando a música corporal pelo mundo. Temos uma rede fraterna muito potente de amigos, fãs e admiradores, espalhada por todos os cantos do planeta e isso tem sido muito importante pra gente, tem nos ajudado muito a superar esse momento de luto. Um dia de cada vez!

Nas lives, além dos convidados especiais, você é acompanhada pelo percussionista e baterista Marcelo Effori, seu parceiro de música e vida. Quais as vantagens e desvantagens, se é que há desvantagens, de dividir o palco com quem se soma a vida?
O Marcelo e a nossa filha Laura são as pessoas mais importantes da minha vida. Partindo dessa perspectiva, o fato da gente distribuir a nossa parceria por diferentes papéis é um privilégio imenso. São muitos desafios, claro, os assuntos se misturam, a gente fica confuso, a gente briga, tem dificuldade de descansar porque a gente adora trabalhar, temos muitos momentos desgastantes. Por outro lado, conquistamos uma qualidade de cumplicidade tão refinada que é possível dizer que só existem vantagens, a nossa música flui sem esforço, a gente já tem uma rotina muito orgânica no modo de atuar, de criar, de compor o nosso trabalho e, acima de tudo, temos muito amor, admiração e respeito um pelo outro.

Um de teus convidados especiais é Maurício Pereira, teu parceiro em “Mulheres de bengala”, que ele gravou em “Outono no sudeste”, seu disco mais recente. Gostaria que você comentasse um pouco a parceria, a amizade e a admiração por ele.
Eu sempre fui muito fã do Mauricio Pereira desde a minha adolescência escutando Os Mulheres Negras e fomos nos aproximando de uma maneira muito natural através de amigos em comum. Teve o projeto “Quanto vale uma canção” que era um encontro de compositores que eu ajudava a fazer a curadoria e que nos aproximou mais. O Maurício foi convidado algumas vezes pra participar e ali era um ambiente muito especial de troca, de conversas e foi onde eu pude chegar mais perto desse ídolo. Até surgir o convite dele pra essa parceria foram alguns encontros casuais, nesse ciclo de amizades em comum, da nossa tribo paulistana de músicos amigos. E pra mim, esse momento de receber a letra dessa música com o convite pra compor essa parceria, é um marco biográfico. Muito especial mesmo. Na primeira live o Mauricio comentou sobre a inspiração que ele teve pra compor a letra dessa canção e nessa próxima live dessa sábado dia 20 eu vou revelar como eu estruturei a melodia que está por detrás dessa letra incrível.

Restam três das seis lives comemorativas do projeto “No meu lugar”, as três primeiras disponíveis em teu canal oficial no youtube. O que o público ainda pode esperar?
O projeto “No Meu Lugar” surge como uma celebração da minha carreira solo, que sempre foi mais tímida quando comparada com a minha atuação no Barbatuques ou com o meu trabalho de professora de canto e percussão corporal. Mas ela sempre existiu, aliás, cantar canções sempre foi o meu impulso mais genuíno, aquela paixão arrebatadora desde a infância. Então, nesse momento da minha vida, onde muitas coisas foram conquistadas, surgiu a necessidade de celebrar esse meu jardim mais interno, esse lugar aparentemente mais introspectivo da minha carreira. Me dei conta que paralelamente à extensa obra que eu assinei em parceria com o Barbatuques eu tenho também uma extensa obra como cantora e compositora. São três álbuns com muitas canções. A quarentena me obrigou a olhar pra isso com mais profundidade e me fez entender a importância desse meu legado. Então escolhi estes três compositores que são parceiros muito importantes no meu capítulo autoral. A cada live são muitas histórias e reflexões que surgem através das canções que estamos apresentando. O público está adorando, porque acho que está se surpreendendo. E penso que isso está acontecendo porque tem sido uma surpresa pra mim mesma. Sinto um frescor, um vigor ao mostrar essas canções. Estamos tendo o cuidado de trazer sempre novidades e surpresas a cada show. Estamos aproveitando cada minuto, já estou ficando com saudade antecipada. As lives com a Helô Ribeiro, minha querida parceira do Barbatuques, prometem fortes emoções. Ela é uma compositora extraordinária! As pessoas precisam saber disso, assim como o Meno Del Picchia e o Maurício Pereira, que é o mais famoso de todos nós. Enfim, tá muito legal, simples assim, sem nenhuma firula e modéstia à parte.

“No meu lugar” tem apoio cultural do Ministério do Turismo, Secretaria Especial da Cultura e Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa. Como você avalia as políticas culturais do governo de Jair Bolsonaro em geral e, particularmente, no tocante à pandemia de covid-19?
Estou muito grata por ter sido contemplada pelo Proac LAB (Lei Emergencial Aldir Blanc). Vale reforçar que essa lei foi aprovada pelo Congresso Nacional para que essa verba chegasse aos estados e municípios. Ela é muito importante, mas não é o suficiente. Honestamente, no tocante à cultura, eu sinto que o plano do Governo Federal é de enfraquecimento dos mecanismos de incentivo. É muito parecido com o que está acontecendo com a política ambiental. Um desmonte dos mecanismos de proteção. Não me lembro de nenhuma outra iniciativa do Governo Federal, destinada ao setor cultural, durante essa situação de emergência.

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