‘Tigre branco’, a jornada de um anti-herói

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Cena de Tigre branco
Tigre branco, em cartaz na Netflix - Foto Divulgação

Balram Halwai (Adarsh Gourav) conta a sua trajetória de garoto pobre, que vira motorista de uma família milionária até se tornar, ele próprio, um próspero empreendedor na ascendente economia indiana. Dito assim, pode se parecer com a típica jornada do herói, cristalizada por Joseph Campbell e conceito pronto para enquadrar uma baciada de histórias de Hollywood. O princípio é um só: os protagonistas seguem, mais ou menos, o mesmo ritual de passagem, marcado pela trinca separação-iniciação-retorno. Mas Tigre Branco, filme da Netflix, está mais para a jornada de um anti-herói.

A narrativa se desenvolve a partir das particularidades da sociedade indiana, mas está longe de se limitar a ela. Isso porque, se na Índia a estrutura social se baseia em um sistema de castas, Balram explica que apenas duas importam: a dos pobres e a dos ricos. O anti-herói se encaixa nessa última e, embora desde pequeno já se destacasse dos demais, sabe que seu destino está traçado para ser um servo. Seu “chamado” para abandonar a cotidianidade surge com a chegada do casal Ashok (Rajkumar Rao) e Pinky (Priyanka Chopra-Jonas), vindos de Nova York, onde foram estudar.

O anti-herói percebe que a tão propalada “maior democracia do mundo” é, na verdade, uma fachada para um sistema político movido pela corrupção, pelo dinheiro e pela exploração humilhante do trabalhador braçal. Balram cresce em meio à expansão capitalista na Índia e ele antevê que seu país natal e a China irão dominar o mundo. Se fosse uma jornada do herói digna de Campbell, o protagonista enfrentaria uma batalha e depois voltaria à sua frágil vida de servidão.

Mas essa jornada do anti-herói se encerra rompendo com a hipocrisia das mensagens de filmes que corroboram com a lógica de que nada tem que mudar, basta um final feliz e todos saem contentes. Balram, à beira de perder tudo, se rebela desse destino e se torna uma espécie rara, um tigre branco.

Tigre Branco. De Ramin Bahrani. Índia/EUA, 2021, 125 min. Na Netflix.

 

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