O Grupo Tapa encena novamente uma peça de August Strindberg (1849-1912), o William Shakespeare da Suécia. Brincando com Fogo, em cartaz no Teatro Aliança Francesa, em São Paulo, entra no repertório da companhia, que já havia montado antes Camaradagem, Credores e Senhorita Julia. Não se pode deixar de pensar no paralelo que é o risco de levar ao palco, nos dias atuais, um autor que, com alguma frequência, é tido como misógino. Na nova montagem do Tapa, percebe-se um esforço para fugir desse estigma.
A trama de Brincando com Fogo gira em torno de um casal que, para aquecer a pasmaceira da relação, inicia jogos de sedução com um amigo e uma prima dessa família burguesa. No texto de Strindberg, há uma crítica sobre a instituição do casamento, o que se nota já nas primeiras falas dos personagens Knut (Daniel Volpi) e Kerstin (Camila Czerkes). O casal parece não se importar em brincar com os sentimentos alheios. Kerstin parte para seduzir o amigo Axel (Bruno Barchesi), que logo tenta controlar a relação extraconjugal. Adele (Luana Fioli) sabe que faz parte desse jogo ao se envolver com Knut, que assumidamente trai a companheira. A cenografia, por vezes despropositada, joga contra a atuação dos atores.
Com direção de Eduardo Tolentino de Araújo, a montagem trabalha sobre o texto de Strindberg, escrito em 1897, sem pretender atualizá-lo em demasia. É um acerto. A história do século XIX bem poderia se passar na modernidade. Autor de mais de 60 peças, Strindberg antecipou o teatro do século seguinte e é considerado o pai do drama moderno. Influenciou gerações de dramaturgos. Nas suas histórias, como em Brincando com Fogo, nem sempre há uma linha que una causa e consequência.