Perfume, de Daniela Mercury

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Daniela Mercury lança álbum perfume
Em Perfume, a cantora e compositora baiana Daniela Mercury consolida uma axé music autoral de protesto, que confronta diretamente a destruição bolsonarista

Em Perfume, a cantora e compositora baiana Daniela Mercury consolida uma axé music autoral de protesto, que confronta diretamente a destruição bolsonarista

Um canto de resistência chamado Rainha da Balbúrdia inicia o álbum Perfume, da cantora e compositora baiana Daniela Mercury: É a rainha da balbúrdia que chegou pra balançar/ as bruxas, as bichas/ o meu canto é de fé em nós/ minha força é a nossa voz/ é a resistência, é a resistência. Trata-se de referência explícita ao governo de destruição de Jair Bolsonaro, cujo ministro da Educação afirmou que as universidades brasileiras “promovem balbúrdia”, ao justificar o corte de 30% das verbas de 60 universidades federais e 40 institutos federais.

Capa do álbum Perfume, de Daniela Mercury
Capa do álbum Perfume, de Daniela Mercury

São várias as citações políticas em Perfume, e elas blindam a tristeza que se oculta por trás do semblante da rainha da alegria da axé music. “Tem sido cansativo contrapor a tantas declarações agressivas”, afirma a artista. “Ver a cultura brasileira ser atacada é muito aflitivo. Mais que isso, gera uma tristeza muito grande. É muito triste ver o brasil desvalorizando os professores, o governo falando que os professores da universidade fazem balbúrdia, desmerecendo os pesquisadores, os cientistas, os artistas. É a sociedade inteira sendo atacada.”

Perfume confronta sem medo o bolsonarismo, e Daniela responde se se sente censurada pelo regime vigente: “Eu sinto uma vigilância. Não me deixo censurar, mas uma das coisas que a gente conversa muito é o perigo da autocensura. Está todo mundo com medo de falar, é lógico que se gera uma tensão maior. Estamos todos sendo atacados, alguns mais diretamente e outros menos, mas bem claramente”.

A estratégia de não se calar segue desde o início do governo atual, quando lançou, ao lado de Caetano Veloso, o axé Proibido o Carnaval, que ironiza e desafia os ataques contra a festa que ela considera de resistência e sublevação. Em Perfume, Proibido o Carnaval aparece lado a lado com La Banda, versão meio em português, meio em italiano de A Banda (1966), de Chico Buarque. “Regravei A Banda porque eu queria uma música que fosse brasileira nesse contexto que estamos vivendo. Era minha maneira de falar que adoro Chico, a obra de Chico e as coisas que Chico defende”, explica, lembrando-se também das desavenças de Bolsonaro com a concessão do Prêmio Camões ao compositor e escritor.

Outra referência explícita em Rainha da Balbúrdia é ao filme Bacurau, que Daniela justifica de modo também político: “O filme me trouxe uma lembrança da garra que a gente tem no Nordeste, de que quando a gente está unido não importa a força de quem está contra nós. A gente no Nordeste sempre viveu com migalhas do bolo federal. Tudo foi mais difícil para o nordestino a vida inteira, inclusive mostrar o trabalho artisticamente”. Nas faixas de Perfume, o ativismo nordestino se soma ao indígena, ao afrobrasileiro, ao LGBTQI+, ao feminino. Na maioria das faixas, a Daniela compositora floresce, em tempos particularmente espinhosos. Não é à toa.

Perfume. De Daniela Mercury. Páginas do Mar.
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