História de um Casamento, a produção da Netflix liderou as indicações do Globo de Ouro e trata abertamente do divórcio
Um em cada três casamentos termina em divórcio no Brasil. Nos Estados Unidos, essa taxa já foi de 50%, mas hoje gira em torno dos 40%, graças às novas gerações. Produzido pela Netflix, História de um Casamento é uma obra sensível e visceralmente real sobre separações familiares. Em briga de marido e mulher, não se mete a colher, já dizia erroneamente o dito popular. O filme de Noah Baumbach mete a colher ao propor discutir, francamente, por que e como os casamentos acabam. Não é uma história com final feliz, divórcios quase nunca são.
O filme liderou as indicações do Globo de Ouro, anunciado em 9 de dezembro, três dias depois da estreia em streaming no Brasil. Deixou para trás Era uma Vez em… Hollywood, de Quentin Tarantino, e O Irlandês, de Martin Scorcese, com cinco indicações cada. Além de concorrer nas categorias de melhores filme dramático, roteiro de cinema e trilha sonora, Scarlett Johansson (atriz) e Adam Driver (ator) e Laura Dern (atriz coadjuvante) também estão na lista dos indicados.
Nicole (Scarlett Johannson) e Charlie (Adam Driver) são um casal em crise que decide se separar. Ela é atriz, e ele, diretor de teatro. Sentindo que vive à sombra de Charlie, com quem trabalha em uma companhia teatral, Nicole assume as rédeas de sua carreira e aceita um trabalho em Los Angeles, onde mora a sua família e para onde sempre quis voltar. Mas o marido é nova-iorquino, bem-sucedido no meio e ainda com a consagração de ver seu grupo conquistar a Broadway. Porém, entre eles, há o filho Henry (Azhu Robertson), e os dois querem a sua guarda compartilhada.
Não tomar partido por um dos lados do casal é o grande mérito da obra de Baumbach. No filme, há presença do discurso feminista, evidenciado na marcante atuação de Laura Dern, que vive a advogada Nora. Belicosa, ela muda o processo de separação amigável para um divórcio litigioso. Sem saída, Charlie apela ao advogado Jay (Ray Liotta), que igualmente traz à tona, com vieses tóxicos, os detalhes que antes eram reservados para uma vida conjugal. O filme vai fundo na judicialização da felicidade e dos afetos.
As duas partes têm lá suas razões, mas visto de fora esses motivos oferecem combustível suficiente para incendiar qualquer tentativa de boa convivência. Eles literalmente se destroem um ao outro, como na sequência brilhante em que Adam Driver e Scarlett Johansson deixam de lado a razão e passam a se agredir mutuamente. Não lhes resta outra coisa a não ser perceber o desmoronamento total de uma relação que um dia já fora feliz. Noah Baumbach tem sido questionado se esse filme é uma resposta ao seu próprio casamento e separação com a atriz Jennifer Jason Leigh, com quem teve um filho. Ele nega.