Patrimônio cultural pernambucano e brasileiro, a cirandeira Lia de Itamaracá está de volta, aos 75 anos, com o CD Ciranda sem Fim, incrementado por produção eletrônica/manguebit de DJ Dolores e Ana Garcia.
“Eu amo a falta/ de silêncio/ do mar/ Odoyá/ na maré cheia/ eu canto/ pra levantar/ na maré seca/ eu deito/ Odoyá”, começa a faixa “Falta de Silêncio”. Trata-se de um canto de trabalho praieiro de grande impacto, composto pela pernambucana Alessandra Leão. O ritmo da ciranda, nos moldes da mitológica “essa ciranda quem me deu foi Lia/ que mora na ilha de Itamaracá”, domina faixas como a marinha “Ciranda sem Fim para Lia”, a climática “Lua Ciranda” e o pot-pourri “Vem pra Cá Morena/ Santa Tereza/ Despedida”. A moderna “Peixe Mulher” (“eu sou menina/ a vida inteira/ estou na beira/ de me jogar”) brinca de ciranda, sem ser ciranda.
“Meu São Jorge” flerta com o manguebit e com o candomblé. “Desde Menina”, “O Relógio (El Reloj)”, “Apenas um Trago (Bom Dia, Meu Amor)”, “Quem Sabe?” (“tão longe/ de mim distante/ aonde irá meu pensamento?”) e “Companheiro Solidão” incorporam elementos da música brega nortista e nordestina, mas Lia prefere chamá-las de “canções românticas”. “Eu sou sem fim”, canta em “Desde Menina” (composta pelo paraibano Chico César) a também atriz do filme Bacurau, no qual interpreta a matriarca morta, mas viva para sempre, da cidade prestes a ser atacada pelos fascistas.
Ciranda sem Fim. De Lia de Itamaracá. Natura Musical.