O solo de Camila dos Anjos, na peça Quebra-Cabeça, faz um valioso retrospecto das escolhas feitas ao longo dos anos
A atriz Camila dos Anjos começou a vida artística aos 7 anos. Agora adulta, ela quer fazer as pazes com a arte em um monólogo repleto de reminiscências não resolvidas. Na peça Quebra-Cabeça, referências do passado vivido dentro de estúdios de programas de televisão e comerciais voltam à cena para lembrar que há um preço a ser pago pelas escolhas. No palco, Camila contracena com personagens do russo Anton Tchecov e do norte-americano Tennessee Williams, autores com os quais ela se identifica desde o início de sua carreira dragada pela indústria cultural.
Sob orientação de encenação de Nelson Baskerville, a atriz costura suas lembranças, alegres e dolorosas, a partir do resgate de imagens e objetos que eternizam seu início precoce no mundo artístico. Que pais não teriam, afinal, guardado cada segundo de aparição do filho na tevê ou preservado bonecas estropiadas da primeira infância? Lentamente, Camila vai puxando o fio desse novelo de memórias que, na superfície, não teceram coisa alguma. Porém, ao ir a fundo e metaforicamente nessa investigação pessoal, ela traz à tona um baú de recordações que farão sentido para muitos.
A peça Quebra-Cabeça é um jogo sincero de autorreflexão, baseado nos teatros documental e autobiográfico. As cartas, vídeos, cadernos, roteiros, fotos e outros materiais são içados de dentro de porões dispostos no chão do palco (o cenário é de César Rezende). Mais que lembranças, eles são peças de um quebra-cabeças que teima em ser desmontado toda vez que Camila se dispõe a concluir uma imagem. Exatamente, como a vida de todos nós.