Os fantasmas estão vivos

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"Ghosteen" (2019), de Nick Cave & The Bad Seeds

O australiano Nick Cave e sua banda The Bad Seeds apresentam Ghosteen, uma ópera-rock noturna e nublada, dividida em dois atos. Segundo o artista, Ghosteen é um espírito migrante, que representa na primeira parte (com oito canções) as crianças e na segunda (com duas longas canções mais uma peça de ligação em spoken word), os pais das crianças. Como é evidente, Cave continua assombrado pela morte do filho Arthur, de 15 anos, em 2015.

Já na abertura, em “Spinning Song”, o autor retrata a morte de um “rei do rock’n’roll” e suplica ao final, com voz lancinante: A paz virá a tempo. “Estamos todos doentes e cansados de ver as coisas como elas são”, prossegue “Bright Horses”, antes de verificar que “não existe Deus”. A pulsão de morte atravessa as faixas “Waiting for You” e “Night Raid”, e a fúnebre “Sun Forest” chega à alma da criança morta de Nick Cave. Tudo é dor, em estado bruto e cristalino. O clímax da primeira parte acontece em “Leviathan”: “Eu amo meu bebê/ e meu bebê me ama”.

A parte dita adulta acontece nos 30 minutos de “Ghosteen”, “Fireflies” e “Hollywood”. Nick tenta instilar algum dom positivo às canções, mas é tarde. “Este mundo é maravilhoso”, constata, inconvincente, em “Ghosteen”, a voz do espírito errante que transita entre os pequenos e os grandes. O tempo todo o bardo australiano parece dizer que quem morreu foi ele, não o filho Arthur. A nós, nos resta sangrar junto com ele.

Ghosteen. De Nick Cave & The Bad Seeds. Ghosteen/Bad Seed.

 

 

 

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