As investigações de León Ferrari

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Obra de León Ferrari

O artista argentino que viveu no Brasil e foi homenageado pela Bienal de Veneza ganha uma mostra com séries inéditas na Pinacoteca

 

A Pinacoteca de São Paulo apresenta, do próximo dia 26 de outubro até 16 de fevereiro de 2020, de forma inédita, duas séries completas do artista argentino León Ferrari (1920-2013), provenientes da própria coleção do museu (Ferrari, que viveu exilado no Brasil, doou 33 das 50 obras que integrarão a exposição León Ferrari: Nós não sabíamos).

León Ferrari  foi uma pedra no sapato da ditadura e também da Igreja Católica de seu País, um grilo falante altamente incômodo. A totalidade da obra de Ferrari ganhou o prêmio Leão de Ouro na Bienal de Veneza, em 2007, reconhecimento de um trabalho multifacetado, que se utilizou de diversas linguagens, como a escultura, o desenho, a caligrafia, a colagem, a instalação e o vídeo.

Ferrari viu no poder da Igreja e dos militares uma forma de opressão e intolerância cuja ação repercutia nas noções de moralidade, nos costumes e nas noções de liberdade de seus contemporâneos. Para denunciar isso, recorreu ao sarcasmo e ao ativismo de enfrentamento. São famosos seus embates com o então arcebispo de Buenos Aires, Jorge Paulo Bergoglio (hoje Papa Francisco, que chegou a pedir uma jornada de jejum e orações para fechar uma exposição de Ferrari na Recoleta).

Em 1976, um golpe militar forçou o artista e sua família a deixarem Buenos Aires, mudando-se para São Paulo, onde permaneceram até a década de 1990. Aqui, Ferrari se integrou de forma fértil ao circuito artístico nacional, participando de bienais e exposições fundamentais. Uma das séries em exposição, Nosotros no sabíamos (Nós não sabíamos), é um conjunto de trabalhos que tem início justamente no ano do golpe argentino, em 1976. Nesse período, o artista começou a recortar artigos jornalísticos que denunciavam o surgimento de corpos de desaparecidos em  Buenos Aires e ao longo da costa do Río de La Plata, trabalhando sobre eles em colagens.

O fortalecimento do acervo da Pinacoteca com obras de León Ferrari começou após a exposição “Poéticas e políticas, 1954-2006”, com curadoria de Andrea Giunta, realizada na instituição em 2006. O processo de doação passou à etapa seguinte, em 2008 – quando, então, outras obras foram acrescentadas ao conjunto – e foi totalmente concluído em 2014, por intermédio de doação feita pela neta de León, Anna Ferrari, um ano após o falecimento do artista. “As séries expostas nunca foram mostradas em sua totalidade. Elas partem de uma mesma operação, que é a intervenção feita pelo artista sobre páginas de veículos de comunicação. Ferrari explora o poder narrativo das imagens, interferindo nelas de modo a potencializar a mensagem que elas transmitem”, disse a curadora-chefe da Pinacoteca, Valéria Piccoli

León Ferrari: Nós não sabíamos – Pinacoteca de São Paulo: Edifício Pina Luz (Praça da Luz 2, Sala C, 2º andar, São Paulo). Abertura: 26 de outubro de 2019, sábado, às 11 horas. De quarta a segunda, das 10h às 17h30. Ingressos a 10 reais. 

 

 

 

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