Um adolescente vê-se órfão e sozinho na cidade grande, num filme que ressocializa jovens em situação de risco
O adolescente negro Sócrates, assim batizado pela mãe corintiana, vê-se órfão e sozinho na vida, na periferia da cidade paulista litorânea de Santos. Sócrates, o filme de Alex Moratto, acompanha os primeiros dias após a morte da mãe corintiana. Premiada em festivais nos Estados Unidos, Alemanha, Grécia e Uruguai, a produção é do Instituto Querô, Organização Não-Governamental que utiliza o audiovisual como ferramenta de inclusão e transformação de jovens entre 16 e 20 anos em situação de risco social. Vêm dessa realidade o premiado ator protagonista Christian Malheiros e os intérpretes dos demais personagens jovens.
Com grande sensibilidade, Sócrates acompanha o menino em busca de empregos subalternos, em fuga do pai violento, com fome pelos cenários periféricos entre Santos e São Paulo, onde se veem cavalos, árvores e lanhouses. Não se tem notícia de retaliação ou censura a Sócrates, ao contrário do que aconteceu a filmes também negros como Marighella, protagonizado por Seu Jorge, que teve cancelada a estreia marcada para 20 de novembro, ou Negrum3, filme periférico paulistano atingido pela rescisão de um termo de apoio da Agência Nacional de Cinema (Ancine) para que a produção participasse do Festival Internacional de Cinema Queer.
Trabalhando na frequência da realidade, Sócrates mostra o personagem beijando e fazendo sexo com outro rapaz, limpando banheiros, fumando maconha, sendo expulso de casa por não pagar o aluguel, cogitando se prostituir, procurando comida no lixo. Se atrair alguma fúria censora, dirão que foi por causa do “beijo gay”. Não terá sido verdade.