A destruição do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, Zona Norte do Rio de Janeiro, é uma tragédia anunciada. Sua articulação começou com a interrupção, pelo governo Temer, de diversos programas de apoio à museologia federal nos últimos dois anos. Vários programas tiveram descontinuidade e foram cortados cerca de 60% dos recursos pelo Ministério da Educação (MEC|) e pela UFRJ, a quem cabia a gestão do museu.
Entre os programas cortados, estava o de prevenção de riscos. Como as universidades federais foram algumas das instituições mais penalizadas pela gestão Temer, o desmonte respingou nos museus.
Na área museológica, o maior responsável por essa falta de políticas consistentes pediu demissão na semana passada, marcando a data do dia 30 de setembro para o desligamento definitivo. Marcelo Araújo demitiu-se do cargo de presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), ligado ao Ministério da Cultura, para assumir outra função num museu paulista – especula-se que seu destino seja o Museu de Arte de São Paulo (Masp).
Marcelo Araújo divulgou na semana passada a seguinte mensagem:
“Colegas do IBRAM,
Apresentei hoje ao Ministro da Cultura meu pedido de exoneração do cargo de Presidente do IBRAM a partir de 30 de setembro próximo. Esta decisão foi tomada em virtude de convite para assumir a direção de instituição cultural em São Paulo. Gostaria de agradecer a toda(o)s vocês, calorosamente, pela convivência, parceria e apoio que tive o privilégio de receber ao longo desses últimos dois anos à frente do IBRAM, quando conseguimos, conjuntamente, tantas realizações exitosas. Para mim foi uma experiência, profissional e pessoal, marcante, além de aprendizado profundo. Espero poder continuar contando com a amizade de toda(o)s, e a expectativa de muitas outras ações conjuntas no futuro. Muito obrigado a cada um(a) de vocês ! Viva o IBRAM!”.
Durante a gestão de Araújo, não se conseguiu fazer concurso para fortalecer os museus federais e houve uma diminuição das ações de financiamento, o que acarreta interrupção de investimentos nos serviços básicos. Recentemente, fez uma vaquinha para reabrir a Sala dos Dinossauros (um absurdo, considerando-se que toda sua manutenção custava apenas R$ 520 mil por ano). Ao Ibram cumpria a supervisão do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista – por sinal, um dos seminários organizados esse ano pelo Ibram foi sobre o tema do Museu Nacional.
O Museu Nacional da Quinta da Boa Vista é uma instituição fundada por D. João VI e tem mais de 200 anos de história. Possuía mais de 20 milhões de itens. A brincadeira golpista saiu caro – mas tão caro, que nossos netos e bisnetos ainda não terão claro o preço da fatura.

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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter de jornalismo cultural desde 1986 e escritor, autor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019) e Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021)

14 COMENTÁRIOS

  1. Morreu e a cerimônia de cremação foi transmitida a nação. Falta a verdade dizer que estava doente à pouco. Havia salas fechadas a 15 anos por falta de segurança no acesso. O último governo ficou 12 anos e também nada fez. Todos são culpados. Quanto custa anualmnte cada político desse país? Tirem suas conclusoes

  2. Orçamento do Museu Nacional

    2013 – R$ 531 mil
    2014 – R$ 427 mil
    2015 – R$ 257 mil
    2016 – R$ 415 mil
    2017 – R$ 346 mil
    2018 – R$ 54 mil

    Usemos cabeça para pensar a respeito primeiro e usemos a boca pra falar em seguida.

  3. Não seguindo a onda da hipocrisia, se o museu precisava de 520 anuais para sua manutenção, verifica-se que desde 2014 não recebe verba suficiente. Há que se pontuar a drástica redução de 2018, mas a degradação do museu não ocorreu em 2 anos. As raízes dessa catástrofe são mais profundas e merecem ser discutidas acima desse Fla x Flu.

    2013 – R$ 531 mil
    2014 – R$ 427 mil
    2015 – R$ 257 mil
    2016 – R$ 415 mil
    2017 – R$ 346 mil
    2018 – R$ 54 mil

  4. Acusar o Governo Temer do desastre é bem coisa de esquerdista que adora jogar a culpa nos outros , os museus e prédios históricos no Brasil estão abandonados à anos , O BNDS durante o governo do PT destinou bilhões para países governados por ditadores populista e outros milhões a bancos e empresas no Brasil e nada para a área de museus . Não estou defendendo o Temer mas justiça seja feita , o país foi quebrado pelos LADRÕES. Quanto aos orçamentos acima eu pergunto por que não usaram esse valor para melhorar a segurança e respondo 1º porque o valor é pouco para sustentar tamanha infraestrutura e 2º porque as universidades federais estão loteadas por pessoas com interesses ideológicos sem comprometimento com o Estado , então amigos, não vamos usar isso como campanha eleitoral. Citem algum museu que foi restaurado pelo governo do PT.

  5. Bem, Ricardo, se jogar a culpa nos outros é "coisa de esquerdista" teu texto parece fazer de você um deles. Uma repetição do discurso simplista que atribui todo o mal à esquerda, sem nenhuma matização mais complexa a respeito das políticas de desmonte do Estado brasileiro (a PEC dos Gastos, para dar só 1 exemplo) e a cassação dos direitos dos trabalhadores (reforma trabalhista) que avançaram desde o segundo mandato de Dilma, e que foi aprofundada de maneira inédita depois do golpe que a destituiu do poder. Teu texto é um puro conjuntos de clichês de respostas simples e prontas produzidas por think tanks neoliberais.

  6. Investimento em museus cresceu 980% em uma década, afirma Ibram
    O Instituto Brasileiro de Museus divulgou o resultado de estudo sobre os investimentos realizados no campo museal entre os anos de 2001 e 2011. O levantamento revela que, no período pesquisado, os recursos destinados anualmente ao setor passaram de R$ 20 milhões para R$ 216 milhões, o que representa um aumento de 980%.

    Os dados do levantamento foram consolidados a partir de pesquisa realizada no Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (SIAFI), contendo empenhos feitos pelo Tesouro Nacional na área cultural e pelo programa Monumenta, que utiliza recursos do Banco Interamericano (BID) e fica sob a responsabilidade do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Também fazem parte do resultado as captações realizadas pela Lei de Incentivo Fiscal (mecenato) relativas a projetos do campo museal.

    Histórico de valorização – A valorização dos museus e o crescimento dos investimentos na área têm, em sua trajetória, alguns fatos marcantes que delineiam a formação do campo museal brasileiro. Em maio de 2003, início do primeiro mandato do governo Lula, foi lançada a Política Nacional de Museus, documento que serviu de base para definir os rumos da preservação e do desenvolvimento do patrimônio museológico brasileiro. Já naquele ano, os investimentos no campo museal subiram de R$ 24 para R$ 44 milhões.

    Em 2004, foi criado o Departamento de Museus (Demu), dentro da estrutura do Iphan. Desde então, uma nova forma de enxergar a importância dos museus brasileiros começou a ser desenhada.

    Com a criação do Ibram, instituído como uma autarquia vinculada ao MinC em 2009, o setor museológico passou a dispor de instrumento dotado de autonomia e maior orçamento para lidar com suas demandas. Os museus brasileiros também ganharam um canal direto e personalizado com o governo, o que tem contribuído de forma significativa para o desenvolvimento do campo.

    Além disso, o programa de capacitação empreendido pelo Ibram junto aos agentes da área auxiliou no aumento do número de projetos relativos a museus, amparados sob o regime de incentivo fiscal.

    Se analisada a série histórica, observa-se um considerável salto entre os recursos aplicados diretamente pelo Sistema MinC após a criação do Instituto. Em 2009 foram R$ 43 milhões e, em 2010, R$ 70 milhões. Em termos de incentivo fiscal, os números também são significativos: foram captados R$ 73 milhões em 2009, R$ 100 milhões em 2010 e R$ 146 milhões em 2011.

    No total de investimentos, 2011 teve recorde com R$ 216 milhões. Esses recursos são resultado de iniciativas do Sistema do Ministério da Cultura (MinC), incluindo suas autarquias e fundações vinculadas, do Fundo Nacional de Cultura (FNC) e dos projetos do Programa Nacional de Cultura (Pronac), aprovados na modalidade mecenato (que viabiliza o patrocínio e apoio de empresas públicas e privadas em projetos culturais por meio de renúncia fiscal).

    Com os gráficos a seguir, é possível visualizar o investimento crescente nos museus nos últimos dez anos:

    “Antes de 2003, o déficit de investimentos na cultura e, em especial na área de museus, era enorme”, afirma José do Nascimento Jr., presidente do Instituto Brasileiro de Museus. Estamos ampliando os investimentos ano a ano para chegarmos a patamares condizentes com a dimensão do setor museal brasileiro”.

    De acordo com o presidente do Ibram, a meta a médio e longo prazo é a superação dos investimentos orçamentários em relação àqueles aportados pelas leis de incentivo para, com isso, minimizar as disparidades regionais.

  7. Desde 2014 que o Museu Nacional estava com livros jogados no chão, como se fossem lixo, as paredes com problemas gravíssimos de conservação aí incluída a parte elétrica e com o teto em frangalhos, com vários vazamentos! Claro que piorou, ainda mais depois dos cortes de sua "excelência", o presidente da república e seus asseclas do congresso nacional, com os cortes em educação, cultura e saúde por um "tempinho" de 20 anos! Agora, depois de tudo perdido e sem recuperação possível (a não ser do prédio)! Teve gente que falou que isso aconteceu porque estava tudo no mesmo lugar! Alguém imagina a divisão dos Museus de Versailles bem como o de Londres??????

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