O Teatro Oficina está lotado, do lado de dentro e do lado da rua. Não há espetáculo nesta noite de terça-feira, 17 de maio de 2016. As vozes que se ouvem são múltiplas como numa peça de Zé Celso Martinez Corrêa, mas hoje não são de atrizes e atores.
O evento é estimulado pela secretária municipal paulistana de Cultura, Maria do Rosário Ramalho, e por seu antecessor, Nabil Bonduki, que deixou o cargo para concorrer a vereador nas eleições municipais de 2016 (haverá?).
A convidada mais célebre é a filósofa Marilena Chauí, que discursa contra a servidão voluntária instalada dentro de tod@s nós, de cada um(a) de nós.
O objetivo do ato é erguer um posicionamento coletivo contra o desmonte do Ministério da Cultura (MinC) pela gestão interina (mas já com ares e procedimentos de definitiva) do vice-presidente peemedebista Michel Temer, por desmontes maiores e mais amplos promovidos pela junta provisória Temer e por outras instâncias do poder nacional.
São múltiplas as vozes que aqui se ouvem. Bem mais veterano nos discursos que o guitarrista Edgard Scandurra (acompanhe aqui o “primeiro discurso da vida” do guitarrista), o jovem Emerson Santos, da União Paulista de Estudantes Secundaristas (Upes), faz soar seu trovão contra a máfia da merenda instalada em São Paulo sob o nariz do governador tucano Geraldo Alckmin.
A cineasta Eliane Caffé, de Narradores de Javé (2003) e O Sol do Meio-Dia (2009), insere outro personagem quase sempre ausente na história da ruptura institucional que vivemos: o patrocínio externo, de Estados Unidos etc., à desestabilização das democracias na América Latina. Tod@s nós somos de direita, conservadore(a)s e reacionári@s, esfrega Eliane nos nossos narizes.
Com o braço direito imobilizado, o músico Chico Esperança transforma o discurso em repente e cordel à capela e traz a São Paulo nordestina ao palco-passarela do Oficina.
A cantora Aíla, prata nortista do Pará, puxa um forte canto anti-~pausa democrática~: “O golpe veio quente/ nós já tá fervendo/ quer desafiar?/ não tô entendendo/ mexeu com a cultura, vocês vão sair perdendo”. A plateia adere imediatamente.
A atriz Camila Mota, do Oficina, puxa o coro que se transformará em “ocupar e resistir”.
O teatro todo ruge um último “fora Temer”, antes de partir em cortejo para uma assembleia noturna na Funarte, já ocupada por grupos de resistência pró-MinC.
Epa! Peraí Eliane Cafee, me inclua fora dessa. Não meça as pessoas pela sua régua. Tenho me esforçado a vida toda para ser a mudança que desejo ver no mundo, tenho conseguido escapar de todas as armadilhas que a falta de $ coloca no meu caminho, lutando muito para sobreviver somente do meu trabalho e sempre tive lado: sou de esquerda desde sempre, mesmo quando nem sabia, sou socialista, sou radical, sempre fui marginal.