QUANDO O KHMER RUGIA

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Estava no aeroporto de New Orleans quando vi um Wall Street Journal largado num banco e o peguei para folhear. Foi ali que li que haveria, no City Winery de Nova York, naquela noite, aquele que seria o show de rock’n’roll mais emocionante da década para um País inteiro.
O país em questão era o Camboja. A banda era a desconhecida Baksey Cham Krong, de surf music, composta por expatriados cambojanos vivendo nos Estados Unidos. Entre eles, havia dois irmãos separados havia quase 40 anos. Eram sobreviventes do genocídio que foi promovido nos anos 1970, no Camboja, pelo governo do Khmer Rouge, um dos mais sanguinários regimes da História – consta que aquele grupo matou cerca de 1,7 milhão de pessoas, cerca de 21% da população.
A banda Baksey Cham Krong era uma das expoentes da cultura ocidentalizada de Phnom Penh, a capital cambojana que era considerada uma “pérola” cultural da região. Os roqueiros amavam Dick Dale, The Ventures, Hank Marvin, entre outros. Entre 1975 e 1979, o Khmer Rouge tomou o poder e caçou os artistas daquela era, colocando cantores e cantoras em trabalhos forçados nas lavouras, fuzilando e matando rock stars e topetudos, artistas e gays.
Tudo isso é o epicentro do documentário Don’t Think I’ve Forgotten: Cambodia’s Lost Rock and Roll, de John Pirozzi, que se deu ao trabalho de garimpar os estilhaços daquela chacina cultural. O filme foi lançado nos Estados Unidos em abril.  Os festivais brasileiros de documentários podiam trazer essa maravilha para sua programação este ano. O trailer é uma delícia.

 

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